O autor socorrre-se de um livro aparentemente pouco relacionado com esta temática  -  “O Andar do Bêbado”, de Leonard Mlodinow, um físico e matemático que publicou em 2008 um estudo sobre o carácter aleatório de muitos dos nossos juízos e decisões. 

Neste caso, o jornalista brasileiro Elstor Hanzen começa precisamente com uma citação do livro:

“O modo como enxergamos o mundo seria muito diferente se todos os nossos julgamentos pudessem ser isolados da expectativa e baseados apenas em informações relevantes. (...) É fácil seremos vítimas das expectativas, e é também fácil explorá-las diante dos outros.” 

O seu comentário de aplicação à actualidade é que o ano de 2016 “foi farto de problemas complexos para os quais se venderam soluções fáceis e rápidas. Por causa da manifestação de insatisfação da população com a corrupção e com a crise política e económica, a saída foi o impeachment e a instalação de um governante salvador da pátria. E os media tiveram um papel decisivo nesse processo, porque colectaram todas as evidências favoráveis à ideia e, o pior, passaram até a interpretar indícios ambíguos de modo a favorecer e respaldar a ideia como solução para a crise”. (...) 

Elstor Hanzen cita vários pontos do articulado do livro, procurando sempre a sua lição para a situação brasileira, e conclui com uma exortação sobre o jornalismo necessário: 


"Acompanhar e endossar opiniões diante de movimentos de ocasião, conforme sopra o vento, não contribui em nada a fortalecer o jornalismo e preservar o seu principal activo: a credibilidade. (...) Em 2017, para não continuar neste movimento aleatório, culpando a crise económica e as redes sociais e se chocando contra todos os obstáculos que encontra pelo caminho sem saber aonde irá chegar, como o andar do bêbado, o jornalismo precisa deixar de lado o papel do marketing e se dedicar a desvendar os temas que de facto influenciam e ajudam a construir nossa cidadania. Só assim a notícia será relevante e servirá como base nas decisões da vida."

 

O texto original, no Observatório da Imprensa, e a apresentação do livro em The Guardian