Mitos e realidades sobre as sondagens de opinião em política
Aquilo que Patrick Champagne, ele mesmo um dos fundadores do Acrimed, procurava esclarecer no trabalho que publicou no respectivo site, em 2006, parte da relação ambígua que tanto jornalistas como responsáveis políticos mantêm com as sondagens: por um lado não conseguem passar sem elas, mas pelo outro "fingem uma certa distância" e vão dizendo que as sondagens são apenas "um elemento entre outros nas campanhas eleitorais e nas tomadas de decisão política".
O que o autor procura, neste estudo, é explicar que uma crítica séria das sondagens, para ser eficaz, "não deve apenas revelar os seus limites de um ponto de vista científico, mas igualmente dar conta das razões sociológicas do encantamento muito mágico e irracional que elas suscitam".
Quanto aos próprios especialistas na realização das sondagens, e aos politólogos que as interpretam, a sua primeira observação, defensiva, é que a sondagem não é mais do que uma espécie instantâneo fotográfico de qualquer coisa mal definida, que pode ser uma relação política de forças ou um estado da "opinião pública".
Aquilo que Patrick Champagne lamenta é que os frequentes erros de análise, em vez de conduzirem a uma maior prudência na avaliação dos resultados pruduzidos por estes inquéritos, mal sejam tidos em conta pelos meios políticos e jornalísticos e que "em cada nova eleição já toda a gente aparentemente se tenha esquecido de tirar lições do que se tinha passado uns anos antes, nas eleições anteriores".
Entrando na matéria, o autor chama depois a atenção para os diversos tipos de sondagens praticadas, para os diversos tipos de perguntas incluídas, bem como para o momento em que são feitas - se é na véspera ou seis meses antes de um acto eleitoral, ou até antes de estar a campanha no terreno, por exemplo. Demora-se neste ponto sensível da "intenção de voto" e da sua possibilidade de mudança, recorrendo a exemplos da realidade francesa daquele tempo concreto, com Chirac, Jospin, Sarkozy e depois "o fenómeno Ségolèle Royal".
Lamenta também que os media se sirvam muitas vezes das sondagens para "encenarem a competição política como uma corrida desportiva, da qual possam depois comentar as mínimas peripécias e mudanças de posição (mesmo que não tenham significado estatístico)". E esclarece que, "vários meses antes de um acto eleitoral, não é ainda a hora da escolha para os cidadãos comuns" e que as intenções de voto "podem modificar-se durante e pela campanha eleitoral". Mas os media "gostam muito dos confrontos binários, simples, conduzidos por ‘celebridades’" [no original personnalités ‘people’]…
Em última instância, os técnicos que as fazem "justificam as sondagens pré-eleitorais afirmando que permitem aos franceses designarem eles mesmos, democraticamente, os seus candidatos". Mas, como conclui Patrick Champagne :
"A tecnologia das sondagens não vai, contrariamente ao que afirmam os seus responsáveis, no sentido de ‘mais democracia’: antes de se interrogarem sobre se tal candidato tem boas hipóteses de ser eleito, seria talvez bom saber primeiro para fazer o quê." (…) E recomenda a lógica inversa, a de se construir, em primeiro lugar, "um verdadeiro projecto de sociedade, reunindo, para o elaborar, militantes, peritos, especialistas, e depois, mas só depois, ver quem pode, em cada partido, defendê-lo perante os cidadãos com algumas hipóteses de sucesso".
O estudo de Patrick Champagne, na íntegra, no Acrimed