Meio século depois da alunagem o valor do jornalismo científico
O autor começa por dizer que é abordado “por estudantes de jornalismo e pessoas da Academia, que me indagam como é o trabalho nesta área, e como poderiam ingressar nela”.
O seu primeiro conselho, para quem queira começar, é um site como o Universetoday, “com uma biblioteca de vídeos para leigos riquíssima”.
No Brasil, aconselha depois o contacto com o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, bem como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e alguns planetários, que têm iniciativas interessantes. “Esses cursos podem trazer oportunidades preciosas para quem precisa de organizar aquele monte de informações que coleccionou sozinho, fazendo leituras aqui e ali. Sei que a Folha de S.Paulo realizou algumas edições de um programa específico para formar estagiários em jornalismo científico, uma iniciativa louvável.”
Mas Pablo Nogueira acrescenta que “especializar-se na cobertura de astronomia e espaço é tão complexo quanto tornar-se um sectorista de editorias como economia ou saúde – menciono estas duas porque passei por elas. No entanto, as duas áreas parecem ter uma vantagem implícita na hora de brigar por espaço na home do site ou por segundos na programação”. (...)
Muito depende da cultura científica do superior hierárquico - acrescenta. “A luta pela difusão do conhecimento científico começa ‘em casa’, isto é, no meio de comunicação onde se trabalha.”
“É claro que você não vai ganhar todas as batalhas. Talvez não ganhe nem a maioria delas. Mas o importante é ir criando, nessa pessoa que está no cargo de chefia, alguma aproximação com o universo da ciência. Isso pode render frutos no futuro, ainda que não necessariamente seja você quem vá colhê-los. Já vi acontecer.”
“Também vale a pena lembrar que jornalismo científico não é divulgação científica, embora ambos possuam elementos em comum. A nossa abordagem da pesquisa e dos sujeitos que a produzem deve procurar ser mais crítica, independente, contextualizadora e promotora de debate público.” (...)
Pablo Nogueira chama depois a atenção para a natureza, a quantidade e a complexidade da informação acumulada neste terreno:
“Os cientistas sabem disso e, muitas vezes, sentem-se inseguros quanto ao entendimento dos jornalistas sobre o próprio trabalho. E, por mais que você se interesse pelo tema, são grandes as chances de que você vá aprender sobre determinado assunto na hora em que entrevistar alguém. Afinal, quantas pessoas sabem distinguir um quasar de um pulsar ou conseguem apontar onde fica a maior montanha do Sistema Solar?” (...)
“Uma questão final, sempre debatida, gira em torno do grau de informação científica que se pode acrescentar ao texto sem que este se torne incompreensível. (...) Certa vez, uma astrónoma francesa, autora de livros de divulgação científica, me disse que acreditava que qualquer pessoa pode compreender, em linhas gerais, as ideias geradas pelo método científico. Mas entender como essas ideias são geradas é algo bem mais complexo.” (...)
A concluir, o autor afirma:
“Em última análise, quem vai dar a medida do possível é o leitor/espectador. Como disse antes, escrever para um público mais geral é bem diferente de ter em vista um leitor mais segmentado e interessado (pois essa é outra característica da cobertura de astronomia e exploração espacial: há alguns leitores até mais apaixonados do que nós).”
“Mas apresentar o modo como a ciência é feita é sempre um ganho, acredito, pois pode contribuir para gerar um senso de apreciação pela ciência – algo essencial para qualquer sociedade que se pretenda viável neste século XXI.”
O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa