O autor, Alexandre Lenzi, jornalista e mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, apresenta aqui o seu recente livro “Inversão de papel: prioridade ao digital, um novo ciclo de inovação para jornais impressos”. 

Como explica, sob a frase “repensar o jornalismo”, inscrita no título do texto, “trata-se de uma inversão de papel que acarreta mudanças de formatos narrativos e de processos de produção, com impactos em diferentes frentes  - promovendo, por exemplo, a antecipação das jornadas de trabalho e a criação de diferentes deadlines [horas de fecho] dentro do mesmo dia. Um movimento que exige investimento em pessoal, tanto em quantidade quanto em qualidade, diante da necessidade de novos perfis e do respeito pelas questões [laborais]”. (...) 

“Nestes mais de 20 anos de experimentações e testes em redacções mundo afora, inicialmente replicando no meio online o que se fazia em outras plataformas, muita coisa mudou radicalmente.” 

O autor menciona a produção de conteúdos pensados já para o ambiente online, “aproveitando características como a hipertextualidade e o alcance proporcionado”, a diversidade dos recursos multimedia e a interactividade com o público. Mas adverte que a Internet, oferecendo novas potencialidades, “traz grandes desafios”: 

“O resgate da credibilidade, diante da acentuada velocidade do ritmo de apuração, é um dos pontos cruciais a serem trabalhados. A ideia a ser desmistificada, no entanto, é a de que a Internet é um espaço sobretudo para publicação de textos curtos, superficiais e imediatistas. Se em algum momento do passado foi realmente assim, hoje, porém, definitivamente esta não é a regra geral.” (...) 

Mas a organização do trabalho seguida pelas empresas está sujeita a tentações, sobretudo quando se fala de multimedia, quando “o discurso de integração é adoptado por empresas mais interessadas em reduzir custos, incluindo despesas com pessoal”: 

“A proposta de ‘promover’ um funcionário ao posto de jornalista multimedia como o desafio de fazer de tudo um pouco é uma visão cada vez mais fragilizada, ainda mais quando tal promoção não vem acompanhada de uma prévia capacitação técnica nem de uma contrapartida financeira no salário.” (...) 

“Gestores com uma visão mais ampla das necessidades do fluxo digital tendem a tomar a frente no comando das redacções. Surgem novas parcerias com universidades, centros de pesquisa e empresas terceirizadas, principalmente para produções envolvendo a incorporação ao jornalismo de tecnologias mais recentes, como a realidade virtual.” 

“Tantas transformações exigem que o próprio modelo de negócio das empresas jornalísticas seja repensando. Rentabilizar com sucesso o jornalismo profissional na era digital é uma questão ainda em aberto. Mas entre dúvidas que permeiam o sector, alguns pontos já são facto concreto, como o dado de que, desde meados de 2014, na média do mercado mundial, os jornais estão conseguindo mais dinheiro do público que paga para [ter acesso ao] conteúdo do que dos anunciantes, grupo que foi a principal fonte de renda dos impressos nos últimos anos.” (...) 

Alexandre Lenzi defende que “o público pagante pelo conteúdo digital precisa de crescer em quantidade e em valor, e a uma velocidade mais acentuada do que a registada até agora; com investimento e inovação, porém, bons resultados já estão aparecendo”. 

“Esta necessária disposição em investir e inovar com foco na plataforma digital é o que chamamos aqui de uma inversão de papel. O jornalismo continua, mas muda a plataforma. A versão impressa permanece sendo publicada, e deve seguir assim por mais muitos anos, embora possa mudar a periodicidade. Mas a prioridade das redacções convergentes já deve ser o digital. O que exige uma nova forma de pensar, de produzir, de agir e de lucrar.” (...) 

A concluir a apresentação do seu livro, o autor refere que este inclui “exemplos de como redacções convergentes estão lidando com tantas mudanças no cenário contemporâneo e como estão planeando os próximos passos”: 

“Questões aprofundadas por meio de 24 entrevistas com lideranças estratégicas de oito jornais: os espanhóis El País e El Mundo, o argentino Clarín e os brasileiros Folha de S.Paulo, Gazeta do Povo, O Estado de S. Paulo, O Globo e Zero Hora. De forma complementar, as mudanças no norte-americano The New York Times também são abordadas por meio de pesquisas divulgadas pela própria empresa jornalística.” (...)

 

O artigo aqui citado, na íntegra, no Observatório da Imprensa