Na sua palestra integrada no ciclo  “Portugal pós-Troika: que Moeda, que Economia, que Futuro?”,  Maria Luís Albuquerque começou por propor uma reflexão sobre o Portugal pré-Troika  -  “ou seja, porque é que tivémos de ter uma Troika, sobretudo atendendo a que foi a terceira vez, na nossa curta história de 38 anos de democracia, que Portugal teve de pedir ajuda externa”. E prosseguiu com uma correcção:

“Frequentemente, quando se coloca no debate público o tema das grandes ameaças, (…/…) ouvimos dizer que o pior que nos pode acontecer é termos outro resgate. O pior que nos pode acontecer, provavelmente, é não termos um outro resgate, se precisarmos. (…/…) Não podemos assumir que, de cada vez que, por culpa própria, (…/…) voltarmos a precisar de pedir ajuda, que ela estará necessariamente disponível. Como tal, cabe-nos a todos, colectivamente, garantir que esse cenário não se volta a colocar.”

Referiu-se à situação portuguesa, “caracterizada por um elevadíssimo endividamento do sector público e do sector privado”, por comparação com as dos outros dois países que entraram em programas de ajustamento: “a Grécia com um problema seriíssimo de dívida pública, a Irlanda com um problema gravíssimo de dívida privada; nós temos os dois.”

“Pensarmos numa saída do Euro (…/…) seria de facto um choque de tal forma grande na vida dos portugueses, que eu acho que é em grande medida inimaginável. O País não está de todo preparado, nem deve, do meu ponto de vista, preparar-se para um cenário com essa gravidade.”

Prosseguindo, Maria Luís Albuquerque sublinhou as características que distinguem os portugueses pelo lado positivo:

“Muito daquilo que será o nosso futuro depende exactamente dessa ideia que tivermos de nós próprios, dessa confiança que tenhamos na nossa capacidade de saber encontrar os pontos em que somos fortes e deixar de pensar em nós como o parente pobre da Europa que está muito longe do centro das decisões.  (…/…)  E sabendo todos nós o valor que a confiança e as expectativas têm na construção do futuro, cabe a cada um, em particular àqueles que têm responsabilidades, fazer com que todos possamos reflectir sobre se há objectivamente alguma razão para que Portugal não tenha um futuro melhor. Pensando objectivamente, não encontro nenhuma.”

Referiu-se ainda a um estudo que “a OCDE está a fazer, com a colaboração e o empenho também do Governo português, sobre quais são as capacidades profissionais ou profissionalizantes em que Portugal deve apostar para uma economia de futuro. (…/…) É um trabalho que está a ser acompanhado por nós, e é de um enorme interesse, e temos muita curiosidade em ver o resultado, que será no final deste ano, da identificação de quais são as competências em que Portugal deve apostar, que na prática resultam de uma identificação das áreas em que verdadeiramente poderemos ser mais competitivos e contribuir mais para ter uma economia moderna e desenvolvida.”

A terminar, referiu-se também aos problemas estruturais que nos condicionam neste momento, como a situação demográfica, a crónica subcapitalização das nossas empresas e outros, mas reiterou a sua confiança em que Portugal seja definitivamente pós-Troika, e que “esta frase desapareça rapidamente do nosso léxico e deixemos de nos preocupar com ela  -  a moeda claramente o Euro, a Economia assente na iniciativa privada, assente nos sectores transaccionáveis, sem rendas, sem sustentar artificialmente aquilo que não tem viabilidade económica, porque, a prazo, sai sempre muito mais caro; e o futuro, duro no imediato, mas sem nenhuma razão objectiva para que não possa ser melhor no futuro.”