Maria Flor Pedroso propõe jornalismo como “um serviço público”
Sobre o que vai sair deste Congresso, que se realiza entre 12 e 15 de Janeiro no Cinema São Jorge, em Lisboa, responde:
“O que os jornalistas quiserem que saia. O que gostaria que saísse era uma reflexão, uma folha A4 com conclusões que, ao contrário do que aconteceu no congresso de 1998, pudessem ser postas em prática. O certo é que não houve um congresso durante quase 20 anos, o que espelha uma classe que está deslaçada, que tem muitos problemas a vários níveis e que não consegue encontrar maneiras de se encontrar e avançar.”
Estão já inscritos 600 jornalistas e estarão presentes alunos de vários cursos de comunicação social, que vão participar num estágio durante o próprio Congresso. Maria Flor Pedroso explica:
“Uma das coisas de que nos queixamos mais é que as universidades não preparam os futuros jornalistas para as funções que depois vão ter de desempenhar. A ideia foi falar com várias universidades, trazer alunos ao Congresso e fazer com eles uma espécie de estágio acelerado. Vamos ter alunos de cinco universidades de fora de Lisboa e cinco da capital. A ideia é criar uma redacção multiplataforma que vai trabalhar para o nosso site - em vez de termos jornalistas profissionais a fazer isto, resolvemos proporcionar uma experiência a estes 80 jovens.”
Em resposta à pergunta sobre se o Congresso não poderá ser, para os jovens, estudantes ou estagiários, uma desilusão, respondeu:
“(...) Acho que a questão não se pode pôr do ponto de vista da desilusão. Esta nova geração não teve e não vai ter as oportunidades que, por exemplo, a minha geração teve - participar em projectos de raiz, entusiasmantes. Estive na comissão executiva do terceiro congresso e a força de trabalho que estava naquele grupo era composta por pessoas com idades a rondar os 30 anos. Hoje, a força que está a pôr este congresso a funcionar são pessoas com cerca de 50.” (...)
No contexto das empresas, e das relações com o patronato, afirmou:
“Acho que por vezes há uma falta de orientação estratégica e global. Do ponto de vista editorial e não empresarial nós, jornalistas, não temos de dar às pessoas o que elas querem, temos de dar o que elas ainda não sabem que querem. Passamos demasiado tempo a ver o que se está a passar na Internet e não o que está a acontecer na rua.”
Sobre a relação do jornalismo com as grandes plataformas, nomeadamente o Facebook:
“Acho que é uma ferramenta muito complicada para jornalistas. A mistura entre opinião e factos... faz-me alguma confusão. Quando é o próprio Facebook que valida notícias [falsas], o que é que os jornalistas fazem?”
E sobre os “jornalistas” que não são, de facto, jornalistas, com referência directa a Marques Mendes:
“O dr. Marques Mendes não é jornalista. É um protagonista político que tem acesso a algumas informações, mas não faz aquilo que o jornalista tem de fazer - o contraditório, ver se aquela informação é verdadeira. Quantas notícias nós pensávamos que tínhamos e deixámos de ter porque fizémos o contraditório...”
Em reposta à pergunta sobre se vai haver “momentos de grande tensão, uma vez que algumas das pessoas inscritas têm uma forma diferente de ver as coisas”, Maria Flor Pedroso concluiu:
“Acho que sim, espero que seja uma tensão positiva. Um conflito criativo, digamos assim. Se esssa tensão não servir para perspectivar o futuro e ver como é que podemos melhorar algumas questões, acho que não vale a pena. Se dessa tensão sair uma coisa melhor, óptimo.”
A entrevista pode ser lida, na íntegra, no jornal i. Mais informação sobre o Congresso dos Jornalistas no respectivo site.