Podemos dizer que tivémos “casa cheia” para ouvir uma das mais estimulantes palestras desde que esta iniciativa começou, em 2012. Fiel à sua vocação e à sua especialidade, Manuel Sobrinho Simões escolheu falar de genética, mas fê-lo de um modo interdisciplinar e com uma linguagem de divulgação científica extremamente acessível e, como dizem os povos de língua inglesa, thought-provoking

O orador relacionou a genética com as nossas qualidades e limitações, mas sempre sem as desligar das consequências culturais da nossa situação periférica:

“O que se passa connosco tem a ver, não com os genes, mas com o sítio onde vivemos, a nossa educação, a nossa cultura. Nós vivemos muito periféricos; somos, de facto, dos países mais periféricos da Europa. Somos pequenos, tínhamos uma topografia muito acidentada, um clima bom, que nunca estimulou a colaboração. Ao contrário do que se passa na Noruega, as pessoas em Portugal podiam ser egoístas, porque não morriam à noite de frio.”

Ainda sobre esta matéria, Sobrinho Simões falou do nosso individualismo e dificuldade em fazer reformas sérias, da nossa resistência a manter instituições fortes e estáveis:

“No meu pequeno mundo, que é o da Universidade, da Ciência e da Saúde, há algumas coisas que queremos ser. A primeira é, no fundo, vencer esse individualismo e esse minifúndio permanente, e reforçar as instituições. Nós temos muito pouca tradição de reforço institucional, somos péssimos em termos de nos associarmos a partir de um objectivo, fazer as perguntas certas e fazer instituições.”

Mais adiante, afirmou:

“Temos tido, quer na Ciência, quer no Ensino Superior, um problema, que é o da fuga de uma geração qualificada  - vinte por cento da nossa emigração é qualificada. Eu não vejo nisso em si mesmo um problema, se porventura houvesse a capacidade de voltar a recrutar as pessoas, mas não estamos a conseguir recrutar.”

“O Portugal que vamos ter vai depender da evolução da Europa, muito mais do que nós, que não vamos poder sair da limitação que temos, geográfica, económica, de dependência. Penso que faria todo o sentido reforçar a noção de que é preciso termos instituições mais fortes.” 

A concluir, fez um apelo à aposta no conhecimento, referindo-se à “capacidade de understand”:

“Nós, na nossa língua, não temos o understand, que é perceber o que está por baixo… Nós temos a ideia de aprender; e aprender tem esta coisa superficial de apanhar pela superfície. Nós precisamos de understand. E nós não somos bons no understand.”