Manual para um jornalista de investigação deslindar redes de crime

David Cay Johnston, vencedor do Prémio Pulitzer, disse que muitas vezes tudo se resume a encontrar o documento certo. Johnston explica que a primeira pergunta a colocar deve ser: “quem teve de fazer um registo do que eu procuro?”. Esses tipos de registos são mantidos por diferentes tipos de empresas legitimas.
Os bancos são as organizações legitimas mais óbvias a serem analisadas, quando se trata de investigar irregularidades financeiras – grande parte do dinheiro deverá passar por elas. Mas os bancos podem parecer “alvos difíceis”, diz Miranda Patrucic, que descobriu várias operações de lavagem de dinheiro na Europa e na Ásia Central, com o Projecto de Denúncia de Crime Organizado e Corrupção. Para Patrucic simplesmente fazer a mesma pergunta várias vezes pode encaminhar o jornalista até à história que deve ser contada.
As escolas privadas também podem ser uma forma de receber pagamentos de paraísos fiscais, tal como Garside descobriu numa das suas investigações. A jornalista identificou 50 instituições de ensino no Reino Unido que recebiam pagamentos. As escolas de elite faziam parte de uma série de empresas da indústria de serviços de luxo e recebiam dinheiro de “empresas fachada”, desde negociadores de arte a concessionários automóveis.
Para seguir o dinheiro, Garside e os colegas colocaram os números das contas bancárias – que suspeitavam ser de escolas particulares –, que apareceram nos documentos, numa pesquisa online de IBAN para confirmar para onde iam os pagamentos. Depois, utilizaram o Wayback Machine para comparar os valores transmitidos com as taxas que as escolas cobravam.
No artigo, são ainda facultadas sugestões do painel sobre como encontrar informações importantes sobre empresas legitimas que ajudam a mascarar actividades criminosas, como por exemplo:
- Funcionários aposentados – segundo Johnston, os antigos reguladores da indústria, que está a ser investigada, são "as pessoas mais úteis que se podem ter como fonte para tentar rastrear dinheiro e empresas criminosas";
- Registos de propriedades – a pesquisa de activos através de sites que tenham acesso a listas de propriedades;
- Conferências – Patrucic refere que conhece um jornalista que passa o tempo a assistir a conferências de contabilidade, pois quer ter a certeza de que todos no sector têm o seu cartão, para que possam denunciar alguma irregularidade ou entregar documentos relevantes;
- As investigações particulares dos jornalistas - Patrucic salientou que ao trabalhar em várias investigações importantes, desde os Panama Papers até a Troika Laundromat, certos nomes e empresas surgiram repetidas vezes, pelo que mantém um registo de todos os nomes de empresas, advogados e directores que investiga;
- Processos judiciais – Possivelmente, jornalistas que investigam pessoas poderosas e grandes empresas, podem ter acções judiciais de prevenção para evitar ou abafar determinadas investigações. Este tipo de processos pode ser uma fonte útil de investigação.
Mais informação em Global Investigative Journalism Network.