Manual para combater a vigilância electrónica sobre jornalistas e fontes

O seu artigo, que aqui citamos da International Journalist’s Network, remete-nos para um estudo do CPJ - Comité para a Protecção dos Jornalistas, cuja apresentação começa precisamente pela questão delicada da protecção das fontes:
“Houve um tempo em que um jornalista nunca entregava uma fonte confidencial. Quando alguém vem à nossa frente, de modo anónimo, para informar o público, é preferível corrermos o risco de ir presos do que denunciar essa pessoa. Esta responsabilidade ética era também uma necessidade prática e profissional. Se o jornalista lhe promete o anonimato, tem que o manter. Se o jornalista não respeita a sua própria palavra, quem vai confiar nele, no futuro? As fontes vão ter com outros e as suas reportagens perdem-se.”
É neste ponto que Jorge Sierra introduz uma questão prévia: se um jornalista pretende defender-se da vigilância electrónica, como é que sabe que ela está a acontecer? E desenvolve algumas regras de segurança:
- – Esteja atento. A vigilância electrónica pode ser usada para preparar ataques ainda mais sérios, se outras formas de intimidação não detêm a investigação de um jornalista. Em qualquer caso, deve dar conta do facto às autoridades e buscar apoio de outros colegas, dos seus media e de grupos como o CPJ e os Repórteres sem Fronteiras, por exemplo.
- – Proteja os seus aparelhos. Computadores, telemóveis ou tablets, todos devem ser protegidos por antivírus, codificação do disco rígido e palavras-chave e senhas resistentes. Esta é a primeira linha de defesa.
- – Siga boas práticas de segurança. Atenção às mensagens por e-mail que o convidam a abrir um link qualquer, que pode importar um software de vigilância - mesmo que tenha confiança no remetente.
- – Verifique os seus dados. Se suspeita de alguma coisa, vá ver se houve um aumento súbito na utilização dos dados. Se estiver activo um software intruso, ele vai chamar o seu plano de dados, para extrair fotos, mensagens, contactos, vídeos, etc.
- – Verifique a bateria. Uma bateria a ficar fraca pode indicar que há um programa intruso a funcionar e a tirar-lhe energia. Veja se ela consome mais energia do que dantes, quando está ligada à Internet.
- – Verifique a temperatura do aparelho. Se não está a usá-lo e ele parece mais quente, isso pode ser outro indicador de que há um programa intruso a correr.
- – Reconfigure o aparelho. Se suspeita que o seu dispositivo móvel foi infectado, tire um back-up de todos os dados e reponha os parâmetros de fabrico.
- – Codifique as suas comunicações. Há boas opções ao seu dispor, como OpenPGP e MeetJitsi, ou a Signal, aplicação preferida por muitos jornalistas de investigação.
- – Preste atenção a outras formas de vigilância. Veja também o ambiente físico à sua volta. Há carros suspeitos perto do seu escritório, ou de casa? Os jornalistas que fazem trabalho de alto risco devem certificar-se de que não são seguidos, principalmente se vão contactar uma fonte sensível.
O artigo original, no IJNet, e a apresentação do livro Attacks on the Press, do CPJ. Outros estudos recentes, no site do CPI