Jornalistas turcos perseguidos e meios suspensos pela purga de Erdogan
É pelo menos irónico que um Presidente que, há bem pouco tempo, bloqueava as redes sociais e mandava prender bloggers, tenha sentido a necessidade, nas primeiras horas de uma situação mal definida, de se dirigir à população usando um telemóvel, para lançar o seu famoso apelo a que fossem os manifestantes a desarmar os revoltosos.
Os primeiros números divulgados pela Amnistia Internacional falam da revogação de 25 licenças de rádio e televisão e apreensão das carteiras profissionais de 34 jornalistas, bem como do bloqueio do acesso a 20 sites de informação “nos dias que se seguiram à tentativa de golpe”.
O site do CPJ – Committee to Protect Journalists confirma estes números, identificando as estações afectadas e os principais órgãos a que pertencem os jornalistas, e acrescenta, entre outras informações: o bloqueio do site da Wikileaks, por ter divulgado e-mails de responsáveis do partido dirigente, o despedimento de cerca de seis dezenas de jornalistas, editores e outros trabalhadores da agência Cihan, e rumores sobre a existência de uma “lista negra” de jornalistas turcos a serem presos.
Também a associação Repórteres sem Fronteiras se pronunciou, exortando o governo turco contra qualquer tentação de silenciar os meios de comunicação "a pretexto de punir supostos apoiantes da tentativa de golpe de 16 de Julho", referindo-se em concreto à suspensão de mais de uma dúzia de sites noticiosos por suspeita de "colocarem em perigo a segurança nacional ou a ordem pública".
As Federações Europeia e Internacional de Jornalistas dirigiram um apelo ao Conselho da Europa e à comunidade internacional no sentido de darem passos concretos "contra os ataques do governo turco aos direitos humanos fundamentais".
Philippe Leruth, Presidente da Federação Internacional de Jornalistas, declarou que "a situação está numa escalada de mais detenções e censura" e que o Presidente Erdogan e o seu governo, que reivindicam a legitimidade de terem sido eleitos, "deviam lembrar-se que a democracia é baseada na liberdade de pensamento, de expressão e de associação, liberdade de Imprensa, e que a censura, de qualquer espécie, é incompatível com a democracia".
Na sequência da declaração do estado de emergência na Turquia, fica também suspensa temporariamente a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, segundo notícia da Reuters.
A confirmação foi dada pelo vice-primeiro-ministro Numan Kurtulmus à cadeia de televisão NTV, refere a mesma agência noticiosa.
Mais informação nos sites do CPJ e da IFJ - Foto por Carmen Alonso Suarez