Jornalistas não aguentam mais ser tratados como “canivetes suíços”

Este relatório, que assenta sobre uma sondagem realizada junto de 1056 pessoas, conta que os jornalistas franceses estão mal, “seja porque trabalham muito, ou porque são precários, ou não são considerados pela sua hierararquia, ou porque vivem sob uma pressão permanente”.
“Há uma intensificação do trabalho e um aumento da respectiva amplitude. Isso vê-se bem no estudo: 8% trabalham menos do que a média, 20% trabalham normalmente, e todos os restantes trabalham mais do que é previsto, com 20% a fazerem mais de 50 horas por semana. É enorme!” - explica Jean-Claude Delgènes.
Recorde-se que, acima das 55 horas, o risco de AVC é agravado - segundo um estudo da revista médica britânica The Lancet, de 2015.
As multi-competências exigidas acabam por fazer uma discriminação etária:
“Há uma pressão enorme sobre sobre os mais velhos - que são mais bem pagos - porque não têm a mesma agilidade no digital. São frequentemente forçados a sair, para aliviar a carga salarial.”
E tudo se passa com uma hierarquia que raramente escuta: “dois terços dos jornalistas não se sentiram apoiados pelos superiores, em caso de pressão vivida no seu ambiente de trabalho, e 42% acham que o seu emprego está ameaçado, pelo digital ou pelas agências de conteúdos.”
Os freelancers, que são mais de metade (57,1%), segundo este estudo, não passam melhor: atrasos de pagamento, por vezes mesmo não pagamento, baixa injustificada do montante da peça, pressão das redacções para passarem ao estatuto de empresários independentes [autoentrepeneurs, no original].
“Quando se pede aos jornalistas que passem ao estatuto de autoentrepeneur” - explica Delgènes - “é muito simples: as redacções ficam sem qualquer encargo, podem romper o contrato sempre que queiram, porque transformam uma relação salarial numa relação comercial...”
Os jornalistas acabam por se desgastar, mentalmente e fisicamente:
“As pessoas reagem bebendo muito café, tomando suplementos, tudo isto para aguentar - quando não querem desistir” - lamenta.
“Não é, com efeito, por pouco motivo que 37% dos jornalistas estão à procura de outro emprego, e 16,8% deles para deixarem de vez a profissão.” (...)
O texto aqui citado, na íntegra em L’Express, e o estudo referido na Marianne
Sobre esgotamento no local de trabalho, mais informação na WAN-IFRA e no Health & Happiness Center, cuja imagem aqui reproduzimos