Jornalistas estão a desistir em França com amargura da profissão
Jean-Claude Delgènes, o presidente da Technologia, realizou três estudos sobre as condições de trabalho dos jornalistas (2009 – 2016 – 2019) e refere uma “intensificação” da profissão:
“Sobretudo com a Internet, que é preciso alimentar constantemente. Mesmo se os jornalistas nunca contaram o seu horário e estão habituados ao stress, o mau reconhecimento, nomeadamente da parte dos leitores, acentua o seu desgosto.”
Coline (nome fictício), jornalista num site francês, confirma: “Há um sofrimento autêntico, tanto mais que não somos considerados nem pela hierarquia, nem pelos leitores. Enquanto community manager, confesso que já deixei de ler os comentários, de tal modo são violentos. No entanto, procuramos fazer o trabalho o melhor que podemos.”
“A precarização aumentou nos últimos anos. O número de freelancers e de desempregados detentores de carteira profissional subiu de 22,7% para 26,2%, entre 2016 e 2017. Arnaud (outro nome fictício), de 28 anos, jornalista na Imprensa especializada, vai somando contratos desde há quatro anos.
“Na realidade, só me encontro desempregado uma vez por ano” - ironiza. É um sector de tal modo competitivo que somos incitados a obedecer sem pestanejar”. Segundo conta, actualmente escreve artigos em cadeia, artigos que chamem clics. (...)
E a Imprensa em papel não é a única com estes problemas: na NextRadio TV, que detém a BFMTV e a RMC [do mesmo grupo de L’Express], já 10% solicitaram a cláusula de rescisão, uma oportunidade legal de se demitirem com as “vantagens” de um despedimento, por ocasião de uma mudança de accionistas.
No entanto, há os que ainda sentem o apelo da profissão e as escolas de jornalismo continuam a atrair candidatos. Mas Stéphane, que foi jornalista durante uma dezena de anos (incluindo em L’Express) e deixou a profissão há poucos meses, tem um olhar duro sobre ela:
“A Imprensa de hoje nem saberia reconhecer um Jack London. Eram capazes de o pôr a fazer podcasts para o Spotify, ou documentários para o Netflix.”
O artigo aqui citado, na íntegra em L’Express