O autor refere brevemente um episódio dessa relação:

“Durante anos, o PT criticou a grande Imprensa, considerada a grande responsável dos males brasileiros, com destaque especial para o Jornal Nacional da TV Globo. Isso não impediu que, durante o governo de Dilma Rousseff, a chefe de sua campanha eleitoral, jornalista Helena Chagas, se tornasse ministra da Secretaria de Comunicação Social, e nessa função destinasse à Globo uma importante parcela da verba federal para a imprensa.”

“Se Dilma, ao contrariar seu partido, esperava um tratamento de favor e um certo apoio da Globo, isso não ocorreu quando mais necessitava, logo depois de sua reeleição, no episódio do impeachment. Paradoxalmente, a implosão do PT não favoreceu a Globo, pois se tornou agora um alvo dos evangélicos e do governo que eles apoiam, assim como o jornal Folha de S.Paulo.” 

Para Rui Martins, “guardadas as proporções e diversidade entre franceses e brasileiros, existe uma certa concordância entre seus militantes de extrema esquerda ou extrema direita: todos olham a grande Imprensa como inimiga em potencial”. 

A situação foi agravada com o surgimento das novas tecnologias de comunicação, que foram aproveitadas por “redes paralelas”, nas redes sociais, “terreno minado por fake news, notícias tendenciosas e os exageros das teorias de complot”. (...)

“No Brasil, os media sempre estiveram, e continuam, em mãos de famílias politicamente de direita. A novidade foi o surgimento de canais de rádio e televisão da Igreja Universal, capitaneados pelo bispo Edir Macedo que, com o apoio do presidente Bolsonaro, tentará tomar a primazia da Globo.” 

“A situação não é das mais animadoras, porém existe pior: é o controlo dos media pelo Estado, nas ditaduras ou governos de partido único.” (...) 

Voltando ao “Exame de Confiança” feito em França, o autor conta como os jornalistas franceses constataram, entre outras coisas, “uma discrepância salarial com relação à maioria da população: os jornalistas ganham em média 3.500 euros, enquanto a média salarial francesa e dos ‘coletes amarelos’ é de 1.800 euros; essa diferença cria a desconfiança no povo e ao mesmo tempo dificulta aos jornalistas a compreensão das dificuldades económicas vividas pela população”. 

“O cofundador do órgão digital de investigação Médiacités, Sylvan Morvan, criou, com base nisso, uma definição bem apropriada, citada no jornal Libération: os jornalistas escrevem livremente aquilo para o que são socialmente programados a escrever.” (...) 

Entre as críticas ao jornalismo praticado em França, vem também a do excesso de comentários em relação à reportagem, e de as mesas redondas da televisão se terem tornado “reuniões de sabidões, incapazes de sair em reportagem”. (...) 

Sobre a situação no Brasil, Rui Martins conclui que “a falha é mais estrutural e envolve principalmente a falta do hábito de leitura e a existência de uma grande parte da população na situação de analfabetos funcionais”. 

“Para eles, pouca diferença faz a existência de media livres. Enquanto o Brasil não melhorar o nível de suas escolas, o jornalismo continuará sendo elitista, mas deve evitar baixar o seu nível para encontrar leitores, a fim de não repetir o ocorrido com a televisão que, na busca de audiência, ficou em geral abaixo da crítica.” 

“Porém, a Imprensa brasileira pode surpreender. E isso ao fazer, nestas últimas semanas, o diagnóstico do começo do governo Bolsonaro, não temeu o confronto com os apoiadores do populismo-fundamentalista colocado no poder.” (...)

 

O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa