Jornalistas britânicos aconselhados a evitar “armadilhas”…
A autora conta que a notícia importante da semana, nos Estados Unidos, foi o testemunho prestado por Robert Mueller a duas comissões do Congresso, sobre o conteúdo do seu relatório sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016.
“A substância do seu testemunho foi que houve interferência, e que continua a haver. Mesmo que já soubéssemos, isto ainda era assunto importante. No entanto, o modo como foi feita a cobertura das declarações conta uma história diferente. O sucesso da sua apresentação foi julgado em termos da forma e não do conteúdo.” (...)
“A cobertura superficial de Mueller deu aos críticos dos media uma oportunidade de, mais uma vez, apontarem a tendência dos jornalistas políticos nos EUA para avaliarem a política como uma produção de teatro, focando-se no drama e na qualidade de bilheteira destes tempos extraordinários, em vez de aprofundarem o seu significado.” (...)
Emily Bell cita outro comentário oportuno, neste caso de Kyle Pope, o director da Columbia Journalism Review, que “oferece um bom conselho aos jornalistas independentes, no Reino Unido, na sequência de Trump”:
“Eu gostaria de encorajar os repórteres do Reino Unido a serem rudemente honestos consigo próprios e com os seus leitores, a respeito de quem é Boris e quais são as suas motivações, e então seguirem em frente. Não deixem que ele se torne o vosso editor, não deixem que seja ele a ditar a agenda noticiosa.” (...)
“Fazer mais a cobertura do estilo do que da substância, tolerar profundos conflitos de interesse não declarados, ampliar e repetir coisas que se sabe não serem verdade, em busca de atenção ou vantagem partidária, são historicamente mais uma característica do que uma falha do jornalismo político britânico. São o modelo de negócio de importantes impérios de Imprensa, muito mais agora que estão postos em perigo por um mercado que pode encontrar entretenimento mais barato e com mais facilidade noutro sítio.” (...)
“Claro que muitos jornalistas preferiam despedir-se a terem de fazer o seu ofício seguindo o formato de Boris Johnson. Vale a pena repetir, muitas vezes, que o facto de sabermos alguma coisa de substância sobre o nosso actual momento político se deve ao trabalho insistente de investigadores e repórteres que continuam a escavar e a apresentar os aspectos menos divertidos da vida pública.” (...)
A concluir, Emily Bell afirma que “talvez a maior lição que os media britânicos podem tirar da experiência de Trump nos EUA seja a de que o seu trabalho é importante para as pessoas, para além dos seus leitores ou audiência, e que, para esse objectivo, precisa de ser mais rigoroso e mais sério”. (...)
O artigo aqui citado, na íntegra em The Guardian