Jornalistas apostam no digital para evitar perseguições na Venezuela
A jornalista Luz Mely Reyes, directora e co-fundadora do site Efecto Cocuyo, esteve presente na conferência “Media e democracia em tempos de ódio digital e polarização na América Latina”, na Universidade do Texas, em Austin, onde falou sobre a forma de trabalhar em jornalismo na Venezuela, apesar das restrições à imprensa.
Em 2000 verificou-se o início do assédio aos media de rádio e o encerramento de fontes públicas de informação, bem como agressões a jornalistas e proprietários de media.
A jornalista explica que sempre acreditaram num “confronto natural e normal entre um líder muito carismático e os media”, concluindo que há 20 anos não tinham media fortes, por isso não tinham, também, uma democracia forte.
Nos anos seguintes, a Venezuela continuou a assistir ao encerramento de canais de televisão e estações de rádio, a ataques contra sites de informação, aquisição de estatal dos media impressos, entre outros.
Numa altura de crise e perseguição aos media, em que muitos sites independentes são bloqueados, o projecto Efecto Cocuyo leva a informação às pessoas, independentemente da sua localização, através do WhatsApp, das redes sociais e do serviço de streaming de vídeo Periscope.
O Knight Center, que organizou a conferência, publicou um artigo a propósito no seu site.
Novembro 19
Desde 2015 que a Venezuela enfrenta uma crise que levou 4,5 milhões de pessoas a deixar o país, segundo dados da ONU, entre as quais muitos jornalistas independentes.
Luz Mely Reyes fala de uma “primavera dos media digitais”, numa altura em que surgiram vários sites de informação independentes – incluindo o que fundou, Efecto Cocuyo –, muitos liderados por jornalistas que deixaram os media tradicionais.
Actualmente, esses sites são fontes de informação independentes de um país onde a independência dos media foi erradicada.
"Estamos a criar o novo sistema de media na Venezuela", explica Reyes, reforçando que se trata de um "trabalho muito exigente" e obriga a aproveitar as mudanças que se têm verificado no sector e experimentar como será o futuro dos media.
Para aproveitar essas mudanças, a equipa do Efecto Cocuyo tem usado um método peculiar: “guayoyos”, ou seja encontram-se com os leitores para um café e conversam com eles, ouvindo as suas opiniões.
Reyes falou ainda das três lições que aprendeu nas últimas duas décadas: a primeira é produzir "mais e melhor jornalismo"; a segunda é que a "polarização é uma armadilha"; e a terceira é que "ser jornalista é estar com o povo".
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