Jornalista Prémio Nobel propõe restaurar a “verdade colectiva”
Os jornalistas estão sob ataque em todo o mundo. Aliás, no ano passado, registou-se a detenção de 293 profissionais dos “media”, de acordo com o Comité para a Protecção de Jornalistas (CPJ).
Além disso, os regimes autoritários têm vindo a alterar as leis da imprensa, condicionando o trabalho dos “media”, e censurando qualquer informação que contradiga a narrativa oficial do governo.
Contudo, a jornalista filipina Maria Ressa, uma das vencedoras do Prémio Nobel da Paz de 2021, acredita que os profissionais da imprensa podem restaurar a “verdade colectiva” e responsabilizar as plataformas tecnológicas pela partilha de “fake news”.
Em entrevista para o “Nieman Lab”, Ressa, que é co -fundadora da publicação “Rappler”, falou sobre a importância da luta pela liberdade de imprensa, da implementação de modelos sustentáveis, e do combate de regimes autoritários através do jornalismo.
Por expôr as acções nefastas do governo de Rodrigo Duterte, Ressa passou a ser perseguida pelas autoridades. Além disso, perante os seus trabalhos de investigação, o regime filipino iniciou uma campanha nas redes sociais, com o objectivo de descredibilizar toda a imprensa independente.
Perante este cenário, a “Rappler” implementou um modelo de “auto-protecção”, que detecta narrativas falsas, através de um “processador de linguagem natural”.
Com isto, explicou Ressa, esta publicação conseguiu desmistificar campanhas de desinformação, e aumentar o seu nível de credibilidade, em contexto digital.
Por isso mesmo, esta profissional considera que, neste momento, “o bom jornalismo não consegue sobreviver sem recursos tecnológicos”.
Abril 22
“Esta tecnologia não deve ser utilizada para obter lucro, mas para criar uma esfera pública de debate, troca de ideias, e de outros elementos essenciais para as democracias”, disse.
Ou seja, sublinhou Ressa, o jornalismo pode sobreviver num mundo de redes sociais, desde que consiga aproveitar os seus recursos, e combater aqueles que tentam descredibilizar a sua missão.
Outro dos elementos essenciais para combater as estratégias ditatoriais, continuou Ressa, é identificar a verdade, protegendo os interesses comuns dos cidadãos.
“Se conseguirmos encontrar os factos, conseguimos entrar na verdade, e reconstruir a confiança no jornalismo. Isto é essencial para derrotar os ditadores, e começa com o trabalho individual dos profissionais da imprensa”, considerou.
Por outro lado, afirmou a mesma profissional, nenhuma destas estratégias conseguirá sobreviver sem a colaboração das grandes plataformas tecnológicas, que dominam o mundo digital, e influenciam a vida da maioria dos cidadãos.
Assim, Ressa defende a introdução de novas leis, que obriguem as redes sociais a distinguirem a verdade da ficção.
Caso contrário, afirmou a jornalista, os governos continuarão a disseminar as suas próprias narrativas, e a formatar “realidades alternativas”, que beneficiem os seus regimes.
“Se os factos forem ignorados em todos os países do mundo – e é isso que está em risco – iremos perder a verdade. Sem verdade, não podemos ter confiança. E, na ausência destes elementos, a democracia deixará de existir”.
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