Entrevistado por jovens estudantes de jornalismo das Universidades do Porto, Coimbra e da Nova de Lisboa, Michael Rezendes afirmou que “é muito mais fácil encontrar pessoas do que costumava ser. Acho que temos muito mais instrumentos do que costumávamos ter, mas a essência do trabalho mantém-se, que é demonstrar a existência de injustiças sistemáticas que precisam de ser corrigidas e responsabilizar as instuituições poderosas pelas suas acções”. 

Referindo-se à série de reportagens de denúncia de pedofilia e seu encobrimento na diocese de Boston, reconhece que “tivemos sorte em publicar a história na era da alvorada da Internet, e isso contribuiu realmente para que se tornasse no escândalo à escala global. Sem a Internet, não sei se isso teria acontecido.” (...) 

Quanto aos efeitos da crise sobre a sobrevivência dos media, declara que, nos EUA, ela “afectou mais os órgãos de comunicação de tamanho médio; foi onde se cortou a sério no número de empregados. Isso significa que ninguém está a cobrir as câmaras locais, que não existem repórteres a cobrir a legislação de cada Estado. Perdeu-se muito do papel de responsabilização do jornalismo, porque os órgãos médios foram privados de financiamento. E não encontraram uma forma de o substituir com subscrições ou outra alternativa”. 

Sobre os efeitos da eleição de Donald Trump, disse que “os meios de comunicação na América têm algum trabalho a fazer. Não só falharam a história da força eleitoral de Donald Trump, mas também as razões para o apoio que obteve. Perderam a história da profunda insatisfação económica na América que levou à vitória de Donald Trump. (...)  E isso devia ser uma lição sobre como recolhemos notícias e sobre as noções preconcebidas que os repórteres já levam para as histórias que estão a cobrir. Os media americanos estão, ou deviam estar, num período importante de autoreflexão”.

 

 

A entrevista, na íntegra, no site do Congresso dos Jornalistas, assinada por Beatriz Pinto, Miguel Pais e Zita Moura