O jornalista considera que os jornais, esses sim, estão em crise; mas como esses grandes diários ainda são muito influentes no relato da realidade, fazem crer que a sua crise é a do jornalismo; mas esta é apenas a crise de uma forma de fazer jornalismo.

"Há outras formas de fazer jornalismo, que estão a aparecer, às vezes mais democráticas, outras não", refere.

Segundo Martín Caparrós “cada formato tem vantagens e desvantagens”: 

"Agora estamos muito preocupados. Como já não há instituições que garantam a verdade jornalística ou, pelo menos, elas já não são tão fortes, estamos supostamente preocupados com esta coisa de que se mente muito mais na Imprensa”.

E sublinha: “Isto da pós-verdade, de que se fala tanto, é uma forma de nos convencer de que antes não se fazia o que agora se faz. Tenho 44 anos de jornalismo e não tenho de todo a noção de que hoje se invente mais do que antes”, recusa. É certo que a mentira é hoje viral, mas “também há mais possibilidades de a desmentir”.

 

O jornalista refere ainda que "não há nada mais maleável do que a História, nada que se possa adaptar mais a relatos muito distintos e todos de alguma maneira válidos".
"O mesmo se passa no jornalismo, mas este, por falta de habilidade ou paciência, acaba por inventar."


Mas isto não o faz temer o futuro do jornalismo.

“Há muita gente com vontade de procurar historias e de as contar. Hoje é possível tentar fazer jornalismo de formas novas, mais abertas e mais livres”, realça, recordando que, quando começou no jornalismo, “era difícil, porque era preciso dinheiro para pagar o papel”.

Agora “há mais espaço, tudo isso é muito fácil, difícil é conseguir material suficientemente bom que sobressaia no meio da selva”.

Ao reflectir sobre a América Central e, mais concretamente no que diz respeito à liberdade de imprensa, considera que nada se equipara ao México: “É um caso terrível e totalmente distinto dos outros, com mais de cem jornalistas mortos nos últimos dez anos. Há um sector com poder de fogo, os narcotraficantes, que precisa de calar os jornalistas e, para isso, tem contado com a cumplicidade geral da polícia, do exército, do Estado no seu conjunto”, acusa.

“O que é admirável é que muitos deles [dos jornalistas mexicanos] continuem a trabalhar. Quando vejo o seu trabalho, parece-me que temos pouco direito a queixarmo-nos. Devemos queixar-nos, mas temos de saber relativizar”, diz, consciente de que as condições de trabalho dos jornalistas em todo o mundo pioraram. 

A entrevista com Martín Caparrós, no Observador