Esta reflexão, que citamos do Observatório da Imprensa do Brasil  - com o qual mantemos um acordo de parceria -  abre um texto que sublinha as grandes vantagens do trabalho colaborativo neste terreno, apontando, por contraste, as limitações do espírito competitivo individual: 

“A falta de espírito colaborativo talvez seja a razão por que tenhamos tão poucas unidades de investigação no país. Embora equipas de investigação sejam uma tendência bem-sucedida ao redor do mundo, os media brasileiros têm poucos exemplos duradouros, quando não puseram fim aos que se destacaram.” 

“Isso ocorreu, em alguns casos, por acção directa de editores que se sentiram ameaçados pelo sucesso das equipas de investigação e preferiram preocupar-se mais com a ‘Guerra de Tronos’ de cada redacção do que com os benefícios para o jornalismo.” (...) 

Outro problema que o autor aponta é o dos equívocos da divisão entre “os grandes media” e os “independentes”: 

“Os que trabalham para jornais, sites e emissoras de rádio e TV grandes, são criticados por supostamente os seus trabalhos não terem a mesma independência do trabalho de quem escreve para pequenos sites ou start-ups recém-abertas. Por contraste, os grandes meios, arrogantes e sem saberem lidar com a competição, quase sempre ignoram o que os veículos pequenos fazem.” (...) 

Guilherme Amado lamenta ainda que os chamados grandes meios publiquem cada vez menos reportagens sobre as regiões distantes do país. No Nordeste, uma repórter falou-lhe da “falta de colaboração para se cobrirem cidades do semi-árido pobre; sem dinheiro para correspondentes locais, o seu jornal, um dos maiores do Nordeste, simplesmente parou de cobrir o semi-árido”. 

Este cenário é frequente noutras áreas do Brasil: 

“Milhões de brasileiros de cidades pequenas vivem em desertos de notícias. O número assusta. O Atlas da Notícia, um projecto apresentado em Novembro pelo Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo e pela agência de dados Volta Data Lab, revelou que 70 milhões de brasileiros vivem em cidades sem jornal ou site de cobertura local. Quantas parcerias entre pequenos e grandes meios seriam possíveis para mudar este número?” (...) 

E o autor conclui: 

“Os meios e os jornalistas brasileiros precisam de entender que redacções orientadas para o trabalho individual, em vez do colectivo, minam o bom jornalismo. O noticiário no Brasil já mostrou que os poderosos sabem bem dos benefícios de se colaborar para propósitos ilegais. Nós agora temos a oportunidade de fazer o mesmo para mantê-los sob controlo.”

 

O texto citado, na íntegra, no Observatório da Imprensa