A autora começa por contar como, na recente Convenção do Partido Republicano, nos EUA, “a maior emissora de TV, por alguns padrões, foi o Facebook” e, “ainda mais importante: os próprios delegados gravaram horas de vídeos, muitos deles maçantes e amadorísticos, mas alguns sinceros e inflamatórios”. 

Mas passa depois aos recentes episódios de violência ocorridos nos EUA, e conta:

“Quando cobri a guerra do Iraque para um website de notícias internacionais, vi vídeos de violência explícita na agência de notícias, mas nos últimos meses vi no Facebook mais gente morta ou morrendo. Nós, a audiência  – e quase todos clicamos –, somos conduzidos entre corpos mutilados ou despedaçados por uma avenida de Nice antes da chegada das ambulâncias.” (…) 

Uma das nossas primeiras questões, instintivamente, é de natureza  profissional: é correcto tratar deste modo a divulgação da violência? Não haverá momentos em que os media se deixam tomar por este voyeurismo universal que, nos piores casos, se torna mau exemplo e “dá ideias” a outros perturbados que aproveitam para tomar também o seu lugar na galeria dos “heróis” promovidos em prime-time

Mais adiante, Emily Bell afirma:

“Enquanto as organizações jornalísticas são puxadas para a transmissão ao vivo pela maré da atenção, o Facebook também é carregado pela mesma maré para as águas profundas da responsabilidade por publicar. A ironia da actual posição é que as organizações jornalísticas e, até certo ponto, o Facebook, têm mantido seus diferentes desmentidos sobre o que está acontecendo.”  (…) 

E conclui:

“A ficção científica está cheia de parábolas éticas sobre o que acontece quando os humanos inventam coisas que não conseguem controlar. Do Frankenstein, de Mary Shelley, à Skynet de James Cameron, as nossas expressões culturais de angústia existencial diante da ciência são inequivocamente consistentes. Apesar de nos prepararmos para a repetição até dos enredos mais extremos, aparentemente ainda ficamos chocados com os lugares previsíveis para onde o progresso nos leva.” 


O texto no Observatório da Imprensa, que contém o link para o original, em The Guardian