“O maior problema é que esta necessidade surge [precisamente] no momento em que são cada vez maiores os obstáculos materiais para viabilizar uma reflexão sobre os rumos da actividade jornalística no mundo inteiro.” 

“As empresas jornalísticas mal conseguem tempo e recursos para buscar sua sobrevivência enquanto as universidades e instituições de pesquisas sofrem pressões financeiras de todos os tipos, o que acaba reforçando a resistência à mudança e à busca de novos paradigmas.” 

Como recorda o autor, os Observatórios da Imprensa “conquistaram uma grande credibilidade, fruto do monitoramento crítico dos media nos tempos pré-Internet, quando a concentração em poucas empresas permitia um mínimo de acompanhamento sistemático dos conteúdos jornalísticos publicados”. 

Depois da revolução digital, “a crise valorizou o papel do monitoramento crítico, mas, ao mesmo tempo, criou dificuldades ainda maiores para que os observatórios cumpram a sua função”. 

“Tanto o exercício quotidiano do jornalismo em ambiente digital como a performance dos observatórios foram drasticamente afectados pela explosão do fenómeno das notícias falsas, responsáveis pelo agravamento da crise de credibilidade pública na Imprensa e no jornalismo.” 

“Tentando neutralizar o descrédito, mais de 150 projectos de combate às fake news foram lançados em pelo menos 40 países diferentes, mas o que foi apresentado como uma tábua de salvação acabou também sendo contaminado pelo vírus da dúvida, quando políticos e movimentos ideológicos politizaram o combate à disseminação de notícias falsas.” (...) 

Carlos Castilho refere-se a seguir à experiência em verificação da veracidade das notícias desenvolvida nos EUA, citando a tese Lucas Graves (Deciding what’s true: Fact checking journalism and the new ecology of news), segundo o qual as três etapas mais importantes do processo de “checagem” de notícias são: a selecção do material a ser verificado, os procedimentos metodológicos usados e a avaliação dos níveis de credibilidade. (...) 

O autor descreve então a história recente das principais instituições de fact-checking conhecidas, nos Estados Unidos e no Brasil, chamando a atenção para o modo como procuram responder à questão da “subjectividade imanente a cada actor ou agente envolvido no processo”. (...) 

“O Instituto Reynolds de Jornalismo, da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, fez um estudo envolvendo três dos principais institutos de ‘checagem’ de factos do país e concluiu que o processo de avaliação de credibilidade é mais complicado e subjectivo do que seus pesquisadores imaginavam antes de iniciar o projecto.” 

“A principal constatação foi a de que os resultados sobre um mesmo dado, declaração ou evento, podem variar conforme o método adoptado, contrariando a expectativa de grande parte do público, que deseja resultados definitivos.” 

“Para os verificadores, a mais eficiente forma de reduzir o índice de subjectividade em produtos jornalísticos é confrontá-los com outras percepções diferentes, mas nem isto é capaz de gerar certezas ou respostas tipo certo ou errado. Os próprios Institutos reconhecem esta dificuldade, porque adoptam um sistema intermediário entre verdade e mentira, criando categorias como duvidoso, incompleto, exagerado ou contraditório.” 

“O reconhecimento de que a análise crítica comparativa da ‘checagem’ de notícias é o melhor caminho para reduzir a subjectividade dos resultados confere aos Observatórios da Imprensa um novo e relevante papel nos media contemporâneos. Os próprios Institutos e projectos de fact checking admitem a importância da ‘meta-checagem’ e falta agora a iniciativa dos observatórios de preencher esta lacuna.” (...)

 

O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa