Jornalismo no Japão visto por um japonês com formação no Brasil
O jornalista brasileiro, Ewerthon Tobace, concedeu uma entrevista ao Observatório de Imprensa, acerca do jornalismo actual no Japão.
Em relação à prática profissional no Japão, Tobace admitiu que o “verdadeiro jornalismo investigativo” não é permitido, sendo filtrado ou censurado pelo Governo.
Por exemplo, o jornalista relembrou que, previamente, o Conselho de Direitos Humanos da ONU divulgou um relatório sobre a falta de liberdade de expressão no Japão, pesquisa que foi rejeitada pelo Governo japonês, que a considerou errada.
Tobace sublinhou que os temas tratados regularmente na imprensa japonesa são a economia, a sociedade e a política, assim como outros assuntos que dominam o panorama noticioso, como a invasão russa da Ucrânia e a pandemia.
Acrescentou, ainda, que, além destes temas, a cultura mediática japonesa dá, igualmente, importância aos aspectos regionais do país, como o turismo, gastronomia, idioma ou sociedade local.
Quanto aos temas abordados no programa na rádio japonesa NHK, o Ponto de Encontro, pelo qual Tobace é responsável, este descreveu-o como “a ponte entre os ouvintes e a emissora”, priorizando a leitura de comentários e cartas, a reposta a perguntas e a apresentação de lugares ou aspectos da cultura japonesa ao público.
Quando questionado acerca das mudanças do jornalismo face à origem das redes sociais, Tobace confessou que apesar de permitirem uma rápida e vasta obtenção de informação, estas possibilitam a criação de conteúdo por “pessoas sem a mínima experiência no jornalismo”, contribuindo para a desinformação.
Um exemplo desta situação deu-se durante a pandemia, quando um funcionário de uma fábrica de papel no Japão alertou para a escassez de papel higiénico e de lenços de papel devido à falta de matéria-prima importada da China. Isto provocou um sentimento de pânico, apesar da afirmação ser falsa.
Dezembro 22
Em relação à formação em jornalismo, Tobace mostrou-se inseguro quanto ao futuro da profissão, uma vez que esta encontra-se numa fase de mudança, sendo “necessário discutir mais sobre como fazer um jornalismo ético em tempos de fake news e de polarização política”.
Recorde-se que, apesar de viver no Japão há mais de duas décadas, o jornalista estudou no Brasil, após ter-se formado na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), em São Paulo. Adicionalmente, foi o vencedor do The Best Journalist Award 2022, em reconhecimento pelo trabalho em prol dos brasileiros que vivem no Japão.
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