“Jornalismo de soluções” como mito ou alternativa
Numa dessas acções de formação, realizada em Maio de 2019 em Cartagena, Colômbia, Liza Gross contou que o “jornalismo de soluções” nasce de uma profunda reflexão sobre “o lugar que ocupava o jornalismo na sociedade - especialmente em democracia - e qual deveria ser, tendo em conta as mudanças tecnológicas e económicas do ecossistema mediático”.
Nos últimos cinco anos, e depois de visitar mais de 200 empresas de media, nos EUA, “chegou à conclusão de que muitos jornalistas partilham esta mesma inquietação: tem de haver alguma coisa além de simplesmente fazer uma denúncia”.
“Conforme explica, o jornlismo de soluções não é mais do que a cobertura rigorosa e baseada na evidência de respostas a problemas sociais.”
“Não é jornalismo-cidadão nem jornalismo positivo. Também não se trata de relações públicas, activismo ou publi-reportagens [conteúdos patrocinados]. É uma ferramenta para apresentar aos leitores informação de uma nova forma, e a qualidade dos trabalhos realizados segundo este foco depende da competência dos jornalistas para a utilizarem.”
“A diferença entre o foco tradicional e o de soluções é procurar a excepção positiva. Se há dez hospitais que não cumprem os requisitos mínimos para atenderem às mães do seu primeiro filho [primíparas], haverá algum que o consegue. Então devemos perguntar: como é que o consegue?” - resume Liza Gross. (...)
Como afirma noutro texto, sobre os “três mitos comuns” a respeito desta disciplina, “o jornalismo de soluções não exagera, não promete, baseia-se em evidência, não especula; por este motivo, por exemplo, eu não faria cobertura com foco em soluções de um programa que se anuncia, mas não tem qualquer evidência de ser bem sucedido”.
“Pode ser, em teoria, um programa muito prometedor, mas se não sabemos se já deu ou não resultado, não é um tema que se possa cobrir neste momento sob essa modalidade.”
“Pelo contrário, o verdadeiro foco do jornalismo de soluções está na cobertura de programas ou políticas que já estejam em marcha, o que permite recolher dados e medições que demonstrem a eficácia, ou não, da estratégia implementada como resposta a uma situação adversa.”
Também sabe denunciar aquilo que está mal ou não funciona, mas não se conforma com isso:
“É importante sublinhar que o jornalismo de soluções não é relações públicas, não é só a história agradável ou cor-de-rosa, mas, pelo contrário, o foco nas soluções pode ser incómodo, mas sempre útil, orienta-se na busca de mudanças sistémicas, para estudar como uma reposta está a mudar a situação e a conduzir a uma resposta mais positiva.”
Por último, não se trata apenas de respostas que resultam a cem por cento, mas também de programas que funcionam de modo parcial, só em determinadas circunstâncias, “incluindo respostas que tiveram êxito em algum momento e deixaram de ter por algum motivo.” (...)
Mais informação nestes textos da FNPI, e os antecedentes deste debate no nosso site.