Assim, o Conselho da Europa promoveu a criação de um Conselho de Peritos sobre jornalismo de qualidade na era digital  - a que pertence a autora deste texto -  que prepara regras de conduta para os Estados membros. Outros projectos, como a Journalism Trust Initiative, lançada pelos Repórteres sem Fronteiras, ou The Trust Project, um consórcio de empresas de media, preocupadas com as questões de ética, rigor e imparcialidade, procuram também contribuir neste sentido. 

“É neste ponto que começa o debate sobre a qualidade. Se queremos salvar o jornalismo, não devíamos concentrar toda a nossa energia e recursos no patamar de cima, o de alta qualidade? Talvez  -  mas onde começa ele?”  -  interroga-se Alexandra Borchardt. 

O seu texto vai então a questões concretas, como a do jornalismo “tablóide”, por exemplo. “Qual é o valor acrescentado em reportagens sobre o vestuário de gravidez de Meghan Markel, ou em artigos sobre a possibilidade da visita de um extra-terrestre, vindo do espaço exterior?” 

“Ou a qualidade de um relato escabroso e completamente detalhado de um acidente fatal, quando os próprios entes queridos [da vítima] não tiveram a oportunidade de os conhecer em primeiro lugar? 

Outros opinam que mesmo este tipo de conteúdo pode ser justificado se, pelo menos, contribui para sustentar o “material autêntico”. Mas qual é então esse “material autêntico”? A reportagem de política, de assuntos económicos, ou investigações de outra espécie? Que diremos da reportagem de desporto, ou sobre comida, ou sobre os aspectos mais lúdicos da secção de cultura? 

A autora chama todos estes exemplos para explicitar que a definição de “jornalismo de qualidade” não é só mais complicada do que parecia, mas pode tornar-se escorregadia e levar a muitos abusos. “Os regimes autoritários, por exemplo, não têm dificuldade em explicar o que é a qualidade, do seu ponto de vista: certamente nada que ponha em causa os que estão no poder.” (...) 

A sua proposta é, em primeiro lugar, a de separar o termo “jornalismo de qualidade” de trabalhos concretos vistos como modelo. “Para sermos francos, pode haver muito mau jornalismo em publicações de alta-qualidade.” (...) 

“Em vez de ser associado a peças que ganham prémios, o termo ‘qualidade’ devia ser ligado a processos que conduzem ao mesmo: a reportagem no terreno, a consulta de segundas ou terceiras fontes, ter um segundo ou terceiro par de olhos a rever o texto, o uso de dados relevantes, manter-se independente de interesses de negócio, usar procedimentos de fact-checking à prova de pressão, mostrar transparência em situações de erros factuais e má avaliação jornalística, manter alta a fasquia no recrutamento e treino de [novos] talentos  -  e alimentar uma cultura que está pronta a fazer o escrutínio destes processos.” (...) 

“Em última instância, do que trata o jornalismo é de ajudar os cidadãos a tomarem as suas decisões e formarem as suas opiniões em todas as áreas da vida, não apenas na política ou na economia. Trata de responabilizar os poderes, trata de levantar a cortina, de explicar e retratar o mundo. E trata também da ambição (e obrigação) de tornar estas coisas interessantes. Sem uma audiência, o jornalismo não conseguirá atingir nenhum destes propósitos.” (...)

 

O texto citado, na íntegra, no European Journalism Observatory