Como explica o autor, num texto que citamos do Observatório Europeu do Jornalismo, mesmo insistir na qualidade como oposto da quantidade não nos resolve o problema. Também a quantidade importa, e muito, para uma empresa de media  - o número de pessoas a que vai conseguir chegar, o tempo de que dispõe cada utente, quanto é preciso pagar por isso, e por aí fora.

“Até os editores de ‘nicho de mercado’ precisam de quantidade suficiente para gerar receita. (...) De que modo podemos dar aos consumidores uma experiência de mais elevada ‘qualidade’?”

Seguindo esta linha de pensamento, Charlie Beckett desenvolve oito pontos de que aqui se apresenta uma síntese:

  1. – Qualidade segundo a experiência do utente. Uma das trocas de ideias mais interessantes na conferência da Newsgeist  foi a que se passou com as plataformas, sobre o esforço que fazem para “graduar por cima” o conteúdo de qualidade, de modo a torná-lo mais fácil de identificar e recolher. Essas plataformas podem melhorar a sua triagem de desinformação ou conteúdos ofensivos, mas não estão editorialmente apetrechadas para reconhecer o “valor” do que fica. (...)
  2. – Qualidade como serviço pessoal. “Demasiada escolha pode tornar-se contra-producente.” Mas deve haver no serviço espaço para feedback, interacção e envolvimento.” Por exemplo, o Times de Londres tem grupos de Facebook organizados por temas, alguns dirigidos pelos próprios leitores. (...)
  3. – Qualidade como valor acrescentado. A reportagem do que acontece é agora instantânea. Do que o leitor precisa é de contexto, análise e comentário, bem como de competência e investigação. “Investigue e revele, não duplique [o que já foi dito].” (...)
  4. – Qualidade como relevância. Os utentes são todos diferentes  - e até a diferentes horas do dia. Não se preocupe tanto com as “bolhas de filtro”. Há provas de que os utentes das redes sociais usam mais fontes, não menos. “Claro, você pode querer desafiar o seu tendenciosismo mas, antes de tudo, compreenda de onde ele vem. Neste sentido, eu diria que os melhores tablóides populares de grande circulação [também] são jornalismo ‘de qualidade’.” (...)
  5. – Qualidade como diversidade. O “esforço” de consumir notícias pode ser compensatório em si mesmo. “Mas também tem a ver com graça, espectáculo, solução de problemas e gozo. Deixe de tratar estes motivos como de menor ‘qualidade’.” (...) “Gosto muito do jornal norueguês que trocou [de funções] todas as suas editorias durante um dia. Repórteres de desporto a fazerem cobertura política, e por aí fora. Aparentemente, o tráfego subiu. (...) Às vezes, a [chamada] ‘câmara de eco’ é a própria redacção.” (...)
  6. – Qualidade como impacto. Se as redacções pudessem entender melhor o efeito que têm nas vidas das pessoas, podiam compreender melhor o seu [próprio] valor para as pessoas e comunidades. Quando os jornalistas falam ao público sobre a importância do seu trabalho para a democracia e a saúde da sociedade, “que evidência apresentam, além da sua auto-preservação? Já perguntaram aos utentes?”. (...)
  7. – Qualidade como experiência emocional. Tradicionalmente desprezamos um jornalismo “emotivo” ou, no caso pior, “sensacionalista”, mas “emoções, sentimentos, identidade e valores são partes vitais da qualidade de vida das pessoas e da sua experiência com os media. Tome isso a sério.” (...)
  8. – Qualidade para além do jornalismo. “Será que o jornalismo já não é suficiente? Sempre compreendemos o mundo pelo uso de outros meios, além do jornalismo.” Como explica Hossein Derakhshan, “a ideia clássica do jornalismo está a deslocar-se para o ponto em que algumas pessoas simplesmente já não gostam dele”. E sugere que devíamos olhar para outras expressões da cultura que informam e influenciam de outros modos, como o drama, ou até a música. “Será tempo de as redacções procurarem colaboração com outros ‘comunicadores’ e criativos?”

O texto citado, na íntegra, no European Journalism Observatory