A autora descreve como é fácil recolher e publicar imagens de “polícia soltando gás lacrimogéneo, manifestantes correndo, queimando carros, quebrando lojas, fazendo depredações”, o que dá sempre boas fotos ou material para a televisão. 

Mantendo o foco sobre o exemplo citado, Juliana Rosas pede explicação sobre as causas: 

“Ok, foi dito que foi pela alta nos combustíveis. Que os franceses reclamavam do aumento do custo de vida. Por que não ir atrás de saber se as reivindicações são legítimas? Por que isso aconteceu agora? Por que o governo atendeu aos protestos? Poderá recrudescer?” (...) 

Depois, procura causas para entender “por que os media mainstream se comportam assim”, e vai propondo algumas:

“É assim que vem fazendo jornalismo há décadas, e mudanças em certos ethos e esferas não são fáceis de implementar.” 

Outro motivo será a crise financeira e institucional: “Faltam jornalistas experientes que poderiam explicar situações assim. Mas seus salários são melhores, eles foram sendo limados e substituídos por jovens inexperientes com salários menores.” 

“Outra: os media tradicionais são neoliberais. Atentem — neoliberais e não liberais, muitas vezes. Embora os ideais liberais tenham sido esgarçados, regurgitados e pervertidos pela nova direita proveniente de think tanks americanos, em curtas palavras, o neoliberalismo prega uma redução do papel do Estado nas esferas económica e social, desconsiderando os danos que trazem para estas mesmas áreas. E o jornalismo — em especial os jornalistas, como já lembrou Kucinski, é o mais prejudicado profissionalmente por tais ideais e quem mais tende a defendê-lo, ainda assim.” (...) 

Juliana Rosas lembra depois toda uma série de protestos ocorridos recentemente no Brasil, desde a greve dos camionistas (“esta tão pouco bem explicada pelo jornalismo tradicional”), passando pelos “actos contra e a favor do Presidente eleito, Jair Bolsonaro”, e outros actos a favor do ex-Presidente Lula, com “o acampamento montado em Curitiba e uma manifestação que atraiu milhares de pessoas no 1º de Maio à capital curitibana”. E volta ao seu ponto de “por que o jornalismo cobre manifestações do jeito que cobre”: 

“Jornalistas por formação devem ter ouvido em algum momento na universidade que ‘jornalista é urubu, adora uma carniça, vai aonde está o sangue ou a podridão’. Aliás, creio que não é necessário estar no meio jornalístico para ouvir essas coisas. Muitos clichês se espalharam e alguns são verdadeiros. À parte o valor-notícia de uma tragédia, jornalista parece mesmo adorar a desgraça. E com isso, acaba caindo no pecado do sensacionalismo e, muitas vezes, falta de ética.” 

“Não é preciso praticar o jornalismo para a paz nem ser de esquerda para bem explicar uma matéria. É ética, faz parte das nossas obrigações profissionais. (...) E uma das funções do jornalismo é justamente trazer à tona o contraditório. De forma responsável, claro. Jornalismo engajado e revolucionário é bom e bem-vindo. Não sendo possível nem desejado pela imprensa tradicional liberal, esclarecimento não é luxo, é obrigação.”

 

O texto citado, na íntegra, no Observatório da Imprensa