A reportagem do jornal interroga-se sobre se os habitantes se misturaram realmente com os jornalistas, na sua maioria vindos de Paris. “Consegue-se fazer cair as barreiras entre a cidade e o campo? Entre os media e os cidadãos?” 

O presidente da Câmara local, Jean-Michel Moreau, de 65 anos, neto de um ferreiro, resume assim a sua atitude: 

“Se não me bato contra qualquer coisa que seja resistente, aborreço-me”. 

Essa vontade de fazer força contra coisas que resistam leva-o a empenhar-se no acolhimento do festival e a preocupar-se com o futuro da aldeia: 

“O que me inquieta é, naturalmente, o envelhecimento da população, mas também que se deixe cair em demasiada quietude. Se não queremos desaparecer, temos de trazer a vida até cá.” 

Durante os debates, um habitante local, que confessa não votar desde 2005, lança o desafio: “Ajude-me a dizer que o vosso jornal televisivo não é subjectivo!” 

Responde o jornalista David Pujadas: 

“A objectividade não existe. Mas quer isso dizer, por outro lado, que há uma parcialidade assumida?” [un parti pris, no original]

O espaço do coro da igreja local foi destinado para um círculo de debate aberto ao público, onde, na manhã de sexta-feira, se discutiram os benefícios e as derivas do digital. 

No exterior, a partir de uma simples inscrição na muralha da aldeia, marcava-se encontro para uma entrevista pessoal, de quinze minutos, com algum dos jornalistas disponíveis. Na manhã de domingo, a partir das 10 horas, havia um programa de degustação num atelier intitulado “Les mots du vin: un lexique pour les initiés”. Arnaud Daphy, consultor de vitivinicultura, coloca as coisas nos seus termos próprios: “Todos somos incultos para alguém.” 

Mas, quando o psiquiatra Serge Tisseron fez a sua palestra sobre robots e inteligência artificial, Patrick, o gerente do bistrot local, comentava de copo na mão: 

“As pessoas de cá trabalham doze horas por dia nos campos: quando saem de lá, têm mais que fazer do que se interrogarem sobre os nossos sentimentos em relação aos robots!” 

Um grupo de adolescentes, inseparáveis dos seus smartphones ligados ao Snapchat, produziu diariamente a edição do jornal Le P’tit Monde, que depois vendiam, à noite, como ardinas. 

“Não se trata, durante o tempo de um fim-de-semana, de fazer destas crianças e adolescentes mini-jornalistas, nem sequer de promover a todo o custo a profissão. Damos-lhes armas para resistirem ao fluxo contínuo de informação, para destrinçarem o que é verdadeiro do que é falso e, se possível, dar-lhes o gosto da actualidade. Com todas as gerações misturadas, Couthures é também isto.”

 

Mais informação em Le Monde, com o programa do festival