Jornal católico americano faz apelo à responsabilidade dos Media

O editorial faz um retrato sombrio do ambiente neste país “agora perigosamente dividido”:
“Uma campanha negativa chegou até níveis sem precedentes. Donald Trump é o Presidente-eleito porque foi desde o início um tão ofensivo fanfarrão e provocador que os padrões normais da decência política - mesmo que sejam sempre forçados numa campanha presidencial - foram incapazes de o conter ou de o submeter a qualquer grau de responsabilidade.” (...)
“Um segundo fanfarrão [bully, no original] entrou na arena política dos EUA com toda a força durante a campanha de 2016: a Internet, como transporte de mentiras indiferenciadas, exageros e notícias falsas. O ciberespaço, esse novo elemento da nossa experiência política, ameaça o equilíbrio da República para além do mandato de um único presidente. Se os factos já não importam, se aquilo que um candidato diz não importa, e se não se pode separar a ficção da realidade, então ficamos livres para nos entregarmos à fantasia, por muito cínica ou sinistra que seja.” (...)
O único ponto positivo em tudo isto, segundo o editorial do NCR, é que “as pessoas estão talvez mais conscientes do que nunca de que a sociedade civil e as instituições democráticas são muito mais frágeis do que imaginavam. Fomos alertados para o facto de que a democracia está sob ameaça quando as diferenças de rendimento são enormes e a oportunidade para a mobilidade social se torna impossivelmente estreita para demasiadas pessoas.”
O artigo dedica parte importante do seu desenvolvimento ao exame da responsabilidade dos próprios media, citando um estudo do Shorenstein Center on Media, Politics and Public Policy, de Harvard, que aponta para o facto de os jornalistas terem passado anos a dizer à sua audiência “que os dirigentes políticos não são de confiança e que o governo é incapaz”; depois, quando tratam da sociedade, “focam-se nos problemas e não nas histórias de sucesso”. Cria-se então um fundo de “raiva pública, percepção equivocada e ansiedade”, que fica ao dispor de quem saiba dirigi-lo contra os governantes.
Mais grave do que isso é a proliferação dos sites que se intitulam noticiosos, dos bloggers, geradores de notícias falsas e “agregadores” de todas as espécies, que tornam muito mais difícil qualquer esforço de auto-correcção.
“O problema com os media, hoje, é que, com sites que precisam de preencher o seu tempo de antena 24 horas por dia, e com o lixo produzido no ‘éter’ tornado indistinguível, para os que não tenham capacidade de discernimento, do material com valor, ficamos em risco de ser submergidos por tudo o que é repugnante e desnecessário.”
O apelo final é no sentido de nos educarmos a nós próprios a avaliar o que vemos e a determinar o que é de facto credível:
“A verdade pode ser complexa e, por vezes, difícil de encontrar. Mas não é falsa.”
O editorial na íntegra e, ainda em tempo, uma reportagem do NCR, do dia seguinte às eleições, com informação sobre o sentido do “voto religioso” - dos eleitores pertencentes às maiores confissões nos EUA. Fotos do CNS – Catholic News Service