Jornais independentes de Hong Kong tentam informar e resistir
As forças policiais de Hong Kong invadiram, em Junho deste ano, a redacção do “Apple Daily”, um dos jornais independentes da região, forçando o seu encerramento, e procedendo à detenção de alguns dos seus responsáveis editoriais, recordou Rachel Cheung num artigo publicado no “site” da “Columbia Journalism Review”.
Aliás, o fundador do jornal, Jimmy Lai, foi condenado a vários meses de prisão, por envolvimento nas manifestações pró-democracia de 2019.
Agora, continuou Cheung, a generalidade da imprensa de Hong Kong assemelha-se aos restantes “media” chineses, que actuam enquanto meios de propaganda governamental.
Ainda assim, e apesar dos riscos associados à prática de jornalismo independente naquele território, alguns títulos privados continuam em funcionamento, informando os cidadãos sobre as mudanças políticas, através de um ponto de vista crítico.
No entanto, assegurou Cheung, de forma a continuarem a desempenhar as suas funções, estes jornais pró-democracia têm seguido estratégias complexas.
É esse o caso do “Stand News”, que ganhou milhares de seguidores nas redes sociais pela cobertura das manifestações de 2019, e que continua a informar os seus leitores sobre as acções dos políticos da região.
“Enquanto pudermos, estaremos aqui para contar as histórias de Hong Kong, resistindo ao esquecimento, recordando a nossa resiliência e preservando o nosso espírito livre”, afirmou o editor-executivo da “Stand News”, Ronson Chan, que exerce, também, funções de director da Associação de Jornalistas de Hong Kong.
A “Stand News” está, contudo, consciente de que poderá ser forçada a encerrar a qualquer momento. Por isso mesmo, o jornal optou, entretanto, por deixar de aceitar qualquer tipo de apoio financeiro, com receio de que as contas do jornal fossem congeladas, à semelhança do que aconteceu com o “Apple Daily”. Além disso, os salários passaram a ser distribuídos no início de cada mês.
Outubro 21
O mesmo acontece no “Citizen News”, uma publicação que reúne diversos jornalistas independentes com vários anos de experiência, incluindo alguns dos ex-colaboradores do “Apple Daily”.
Perante as restrições aos “media” privados, este jornal tem-se dedicado à publicação de notícias diárias, como forma de manter os cidadãos a par dos acontecimentos, e mantê-los alerta sobre as acções governamentais.
O jornal está, assim, a tentar mitigar o desaparecimento do “Apple Daily”.
Existe, ainda, um terceiro jornal independente a funcionar naquela região. Chama-se “HK Feature”, conta apenas com três colaboradores em “full-time” e com 600 subscritores digitais.
Ainda assim, graças ao apoio de jornalistas cidadãos, esta pequena publicação tem conseguido alargar o seu espectro de cobertura mediática.
Kathy Wong é uma das três repórteres a tempo inteiro da “HK Feature”. Com apenas dois anos de percurso profissional, esta jovem teme não ter futuro no sector dos “media”, já que tem de conjugar o jornalismo com outras actividades, para garantir o seu sustento.
"Precisamos de redefinir o jornalismo. Como posso ter a minha própria profissão que me permita continuar a reportar e não ficar fora de contacto com a sociedade? Ainda estou à procura de um caminho que me permita ir mais longe", disse.
Já o editor-executivo daquele jornal, Kwan Chun-hoi, considerou que “os dias sombrios” são, apenas, uma situação temporária. “Os regimes surgem e desaparecem”, disse, dando o exemplo da Coreia do Sul e do Taiwan, cuja imprensa sobreviveu aos períodos de autoritarismo.
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