Outra informação importante: como conta em entrevista ao El País, Leonardo Haberkorn não se rendeu: o ensino nunca tinha sido a sua profissão principal, mas acabou por voltar a ela de outro modo, dando cursos de escrita aos trabalhadores de empresas que lho pediram. 

“São vendedores, ou atendedores, que começaram a trabalhar muito novos e que, em muitos casos, não conseguiram estudar mais do que o nível secundário. O seu interesse por aprender é muito maior do que o daqueles alunos universitários, que tomam como facto que a sua educação é um direito adquirido.” 

Ele próprio autorizava o uso dos telemóveis nas aulas, porque os considera importantes para fazer jornalismo: 

“Mas a estes alunos, de modo geral, faltava curiosidade e empenhamento pela profissão. Julgavam que aquilo que lhes estamos a explicar pode ser encontrado imediatamente no Google, e que todo o saber está armazenado e ao alcance do telemóvel, quando há matizes que não se podem encontrar num vídeo tutorial. Copiar e tirar da Wikipedia extinguiu a sua curiosidade.”  (...) 

O texto de Borja Ventura, outro docente de jornalismo  - e que aqui citamos dos Cuadernos de Periodistas -  insiste sobretudo no tema da atenção, e como continua a ser usada, mesmo por um aluno aparentemente distraído pelo telemóvel. Pode ser que muitos desses alunos estejam de facto a ler outra coisa qualquer, mas talvez muitos outros estejam a acrescentar pesquisa àquilo que ouvem: 

“Ter em simultâeo atenção e ecrã corresponderia a uma espécie de escuta activa, em que o receptor é um agente principal. Podemos pensar que, a menos que os assistentes sejam forçados a estar ali, ou que quem ensina seja rematadamente aborrecido, eles estão mesmo interessados no que escutam.”

No que diz respeito aos meios de comunicação, o problema é mais complexo: “precisamente porque temos muito mais acesso, e mais imediato, à informação, estamos também habituados a ter mais estímulos para captar a nossa atenção”. Entre as novas gerações, os chamados “nativos digitais”, chega-se ao ponto de precisarem desses estímulos para poderem prestar atenção. 

Há aqui uma evolução que resulta da nova “cultura visual”. Uma parte da audiência mais jovem já “fala outro idioma”: 

“A esta necessidade de ‘tradução’ corresponde, por exemplo, o apogeu do formato de conferências TED, limitadas a discursos estimulantes e directos de 18 minutos, ou menos. É claro que uma aula de hora e meia sai destes limites, como lamenta Haberkorn.”  (...) 

“Mas, à margem de todos estes sintomas, na realidade o problema premente é o segundo que o professor apontava no seu texto: que se esteja a falar de jornalismo a pessoas que não consomem media. Pessoas que, num caso extremo, nem entendam a necessidade de estarem informados, e a vulnerabilidade que tal coisa representa para um cidadão.”  (...) 

Num artigo extenso, cuja leitura na íntegra são é substituível por esta síntese, Borja Ventura cita vários exemplos concretos de adaptação do discurso às novas audiências juvenis e remete, finalmente, para uma reflexão sobre aquilo que seguem sem precisarem de ser encorajadas a tanto: os influencers. Indo directo ao assunto, explica-nos que há novos intermediadores no circuito da comunicação. Já havia, como ensina a sociologia da comunicação: 

“Um professor, a mãe ou um articulista, podiam, por exemplo, amplificar uma ideia, pô-la em causa ou desmenti-la imediatamente. Por mais que os emissores tivessem grande influência, um líder de opinião cumpriria sempre uma função vital nesse esquema comunicativo, chegando a um impacto muito maior pela sua afinidade com o receptor.”  (...) 

Na lógica actual, os emissores multiplicaram-se e mudaram, os media já não são únicos nem os mais importantes. Por outro lado, os líderes de opinião tornaram-se universais,  “já não são apenas os mais próximos, fisica ou ideologicamente, mas também aqueles que se tornam referentes virtuais, a respeito de temas variados”. 

“Os jovens consomem menos televisão tradicional, mas assinam, aos milhões, os canais dos seus youtubers favoritos. Já não se compram revistas de tendências e de moda, mas as instagramers do ramo arrastam legiões de seguidoras que as convertem em activos publicitários de grande valor. Não lêem Imprensa política ou económica, mas alguns autores de twitter atraem milhares de pessoas de toda a índole.”  (...) 

Que tem isto a ver com os media e o jornalismo? Também este ponto tem sido estudado, verificando-se que “o influencer converte-se numa marca por si próprio, capaz de fazer dinheiro funcionando como embaixador publicitário, enquanto o jornalista que se converte em influencer  colhe rendimento da sua comunidade conseguindo amplificar a mensagem que partilha.”  (...) 

Há um ponto em que ambos os mundos se tocam: a construção de uma comunidade própria.
“O influencer é assim porque tem quem o siga, de modo que um jornalista capaz de gerar a sua própria comunidade, [como fizeram alguns bloggers espanhóis citados] é por si mesmo um activo de influência que transcende o título para o qual trabalha.”  (...)  

“Os influencers compreenderam, melhor que os media, que ser escutado depende da capacidade de adaptação da mensagem: não é só de a personalizar, nem tornar acessível, nem usar a narrativa adequada, mas sim de fazer tudo isso ao mesmo tempo. Só assim, e retomando os antigos padrões da verificação, da objectividade e da transparência, podemos reencontrar as tais audiências perdidas.”  

Ou, voltando à entrevista de Leonardo Haberkorn ao El País

“Dantes, nós, os media, tínhamos o monopólio, quando era preciso contar o que acontecia. As pessoas dependiam de nós para estarem informadas. Agora estamos mais preocupados em procurar clicks rápidos, sem tempo sequer para informar. E as fontes podem prescindir de nós, para contarem o que acontece.” 

“Por isso, devemos assumir outro papel: converter-nos em auditores do que acontece, explicar o que é verdade e o que é mentira nos relatos que são partilhados por WhatsApp ou por outras redes sociais. Porque o contexto da informação não cabe num tweet.”

 

O artigo citado, na íntegra em Cuadernos de Periodistas, e a entrevista de Leonardo Haberkorn a El País.