Imprensa espanhola adapta-se aos desafios da era digital
O “El Mundo” adoptou, então, o modelo “freemium”, um formato popular na Europa, através do qual os leitores continuam a poder aceder ao jornal, mas que reserva o acesso a artigos “exclusivos” aos subscritores.
Por norma, o conteúdo restrito, vedado ao público em geral, consiste em artigos de opinião, reportagens em profundidade ou entrevistas a figuras proeminentes.
Este tipo de modelo é, particularmente, lucrativo, visto que é compatível com as receitas provenientes da publicidade. E, além disso, descurar o formato em papel não é uma opção.
Implementar o “freemium” exige, contudo, algum trabalho prévio. Para que a “paywall” surta o efeito desejado, é necessário estudar os hábitos de leitura e as preferências do público, para garantir a adesão dos consumidores.
O “El Mundo” parece, porém, ter-se dedicado o suficiente para que o “freemium” dê frutos, e muitos outros jornais espanhóis de referência estão a pensar seguir-lhe o exemplo.
É o caso do “El País” que começou a dar os primeiros passos no conteúdo restrito. O director do jornal salientou, mesmo, que "o objectivo final do modelo de assinatura paga é que haja mais receitas com as subscrições do que com qualquer outro método".
A imprensa regional espanhola é, neste sentido, um bom exemplo, já que começou a apostar no formato digital, muito antes de os jornais nacionais equacionarem essa hipótese. Ao longo dos últimos anos, estes jornais foram conquistando milhares de assinaturas, pelo que pode adivinhar-se um futuro auspicioso para o “El Mundo” e para o “El País”.
Se, por um lado, os jornais “tradicionais” começam a moldar-se à era digital, por outro, os títulos “online” estão, também, a aperfeiçoar os seus modelos.
O “InfoLibre digital”, por exemplo, baseia-se, desde a sua criação, numa modalidade “freemium”. Após seis anos no mercado, o jornal atingiu, no final de 2019, cerca de 9.500 assinantes. Depois deste período, o jornal atingiu o “plateau”, pelo que a direcção decidiu personalizar as “paywall”, de acordo com as preferências de cada leitor.
A nova ferramenta do “ InfoLibre” permitirá "a promoção e distribuição de conteúdos exclusivos entre os leitores que ainda não são membros. O Fundo de Inovação de Notícias Digitais da Google contribuiu para o projecto com 200 mil euros.
O nativo digital,” El Español” é outro exemplo de um jornal “online” que está a aperfeiçoar as suas fontes de receita.
Este jornal foi fundado em 2015 através de uma campanha de “crowdfunding”, na qual 5.624 accionistas contribuíram com um total de 3.600.000 euros, de acordo com os dados fornecidos pela própria empresa. No entanto, “El Español” admite atravessar um "processo de redefinição" focado "em conhecer melhor o público”, para que possa produzir conteúdo de maior interesse e conquistar mais assinaturas.
O futuro de todas estas publicações é, contudo incerto, e tudo aponta uma viagem longa, ao encontro de um modelo de negócio sustentável a longo prazo.
Apesar de as “paywalls” serem encaradas, por muitos, como a “salvação” dos “media”, ninguém descuida a necessidade de os jornais se adaptarem, continuamente, às mudanças culturais e de consumo.
Leia o artigo original em “Cuadernos de Periodistas”