Sobre a justeza dos títulos, estamos falados. E sobre esse parágrafo de introdução, a que chamamos lead ? Pode parecer maçador meter estatísticas de desemprego a encher esse espaço nobre, fundador de qualquer notícia ou reportagem. Vamos então ver uma dessas histórias, contada neste mesmo trabalho:  

 

“Início do Outono de 2015, num bar na Costa Leste. Um jornalista de meia-idade desempregado, cujo trabalho admirei durante décadas, aceita encontrar-se comigo para beber um copo. Pago a primeira rodada e ele paga a segunda.” 

“Conversamos sobre editores e jornalistas que ambos conhecemos, sobre matérias bem-sucedidas e outras que se perderam. Uma típica conversa jornalística. ‘E afinal, o que é que você quer?’, perguntou-me. Explico que estou procurando o ângulo humano por trás das notícias de milhares de jornalistas que foram diminuídos na sua profissão. ‘E eu sou o lead da sua reportagem?’, perguntou, agarrando-me e ficando tenso. Senti que o estava perdendo. Daí, uma última tentativa: ‘Você está deprimido?’ Sua resposta imediata: ‘Você está tentando me irritar?’ Saiu deixando um copo cheio de cerveja em cima da mesa.” 

Dale Maharidge conta o que temos visto noutras paragens:

“Durante a maior parte do século passado, os jornalistas podiam confiar na estabilidade das suas carreiras. Os jornais eram um intermediário entre os anunciantes e o público; era como se suas impressoras imprimissem dinheiro. O benefício desse quase-monopólio era que as redacções estavam apinhadas de repórteres e editores, a maioria deles, defensores fervorosos da criação de um jornalismo que fizesse a diferença nas suas comunidades. Muitas vezes significava protecção sindical, emprego vitalício e pensões. Jornais como o Sacramento Bee orgulhavam-se, durante as novas contratações na década de 80, que mesmo durante a Grande Depressão o jornal jamais demitira jornalistas.”

Dale, ele mesmo autor de um livro sobre os vagabundos sem-abrigo, conta esta história de um jornalista despedido que lhe escreve a agradecer a reportagem:

“Estou viajando na minha moto no sentido Oeste. Acampei temporariamente no estado do Arizona, passei um tempo dormindo no campo, no chão, e também em alguns albergues pelo caminho. Sou um sem-abrigo temporário e também sem dinheiro. Três diplomas universitários que não servem para coisa alguma… Portanto, sento-me em frente do computador da biblioteca pública escrevendo as minhas histórias e pensando no que irei fazer.” 

Aqueles de nós que são grisalhos recordam instintivamente o filme Easy Rider, onde essa nostalgia da liberdade de rodar sem fim nos grandes espaços americanos é temperada pelo choque de uma realidade menos romântica. Curiosamente, a sequência da reportagem de Dale passa, precisamente, pela demissão dos jornalistas mais velhos  -  mas que podem ser assim considerados quando ainda estão a meio das suas carreiras e das suas vidas. 

Entre os comentários publicados no site JimRomenesko.com,  R.G. Ratcliffe, que trabalhou durante 33 anos em jornais  – do Houston Chronicle ao Florida Times-Union –  perguntou: "Talvez eu tenha perdido alguma coisa, mas alguém já fez uma reportagem sobre como as demissões de redacções da última década foram um dos maiores exercícios de discriminação de idade na história dos Estados Unidos?"

E o que conta a seguir são várias histórias de acções judiciais contra a discriminação de idade, geralmente mal sucedidas… 

“Mas a mudança também é mais profunda e mais sistémica. (…) A história dos jornalistas descartados hoje é, basicamente, uma parábola sobre a forma pela qual a nossa economia, toda a nossa maneira americana de ser, suga as pessoas até ficarem secas e as joga fora quando o seu valor cultural e económico diminui. Muitos trabalhadores mais velhos, e não apenas jornalistas, sofrem com isso.” 

Mas há uma diferença importante entre os outros trabalhadores e os jornalistas  – quando estes são demitidos, a comunidade sofre. “Você sabe quem é que gosta da actual falta de jornalismo? Os políticos. Os empresários. Ninguém mais os está vigiando”  - diz Russ Kendall, repórter fotográfico e editor pela vida toda que atualmente é auto-empregado numa pizzaria.

 

 
Mais informação no Observatório da Imprensa do Brasil e a reportagem original