No seu texto, reproduzido pela Ethical Journalism Network, Justin Lewis demonstra que cada um destes actores toma uma decisão incoerente com as suas próprias posições assumidas, ou deixa-se cair em critérios de “dois pesos e duas medidas”.

Segundo explica, “a decisão da Virgin Trains foi, em parte, comercial: como disse um porta-voz da empresa, o Daily Mail ‘não é compatível com a marca VT e as nossas convicções’. E, como companhia privada, esta pode escolher não incluir o Daily Mail, do mesmo modo como pode escolher não incluir uma determinada marca de batatas fritas. Se os comboios tivessem continuado a ser propriedade pública, este assunto nunca teria sido levantado.” 

“Sem dúvida para condimentar a ironia, Jeremy Corbyn  - o ‘diabo’ para o Mail -  comprometeu-se a reverter a interdição numa futura rede nacionalizada de caminhos de ferro. O Mail, evidentemente, apoia a privatização que tornou isto possível.” 

“Por seu lado, o Mail acusou a Virgin de “censura”. A Virgin podia sem dúvida responder que tomou apenas uma decisão de gestão  - a qual, como companhia privada, tem a liberdade de tomar.” (...) 

“De facto, impor a companhias privadas de caminho de ferro que transportem uma selecção determinada de jornais seria exactamente o tipo de interferência estatal que o Mail tanto ataca. O Mail resiste firmemente a qualquer tentativa de regular os jornais, portanto dificilmente podia argumentar que deve ser o Estado a intervir a seu favor e obrigar uma empresa privada a incluí-lo.” 

“O uso, pelo Mail, da palavra ‘censura’ num mercado livre, levanta, no entanto, uma interessante questão filosófica: pode uma empresa privada que escolhe que tipo de informação e de pontos de vista vai oferecer aos seus clientes ser culpada de censura? Eu seria capaz de apresentar um cauteloso ‘sim’  -  mas o Daily Mail responderia com um estrondoso ‘não’. Será que o Daily Mail oferece aos seus leitores um debate equilibrado ou um largo leque de pontos de vista sobre a imigração, o Brexit ou a política de modo geral? Claro que não.” (...) 

O texto de Justin Lewis prossegue com uma demonstração detalhada da parcialidade intencional do Daily Mail sobre estas e outras matérias e conclui: 

“O Mail dirá que, ou sobre o Brexit ou sobre a imigração, não se trata de censura mas  - para citar a Virgin - [uma opção] ‘compatível com a sua marca e convicções’. Assim, seja o que for que possamos achar da decisão da Virgin de incluir aquilo que quer, ou da decisão do Mail de fazer reportagem como entende, esta é uma história rica em duplicidade de padrões. Embargado por uma empresa privada de caminhos de ferro, o Mail acabou por ser, ideologicamente falando, ferido pela sua própria granada.”

 

O texto citado, na íntegra, na Ethical Journalism Network