Guia prático sobre a desinformação em jornal espanhol
1. O que é desinformação?
Geralmente é definido como conteúdo falso disseminado com a intuito de enganar ou manipular. Não deve ser confundido com informações erradas que, por mais erróneas que sejam, não têm a mesma intencionalidade.
A desinformação pode assumir várias formas: notícias biográficas, tweets ou postagens no Facebook e Instagram; anúncios pagos nas redes sociais e até gravações editadas e tendenciosas, distribuídas nas redes sociais ou por meio de uma aplicação de mensagens (especialmente o WhatsApp).
Os principais autores de notícias falsas foram historicamente os estados, pela mesma razão pela qual foram responsáveis por controlar ou fechar os canais que não interessavam à sua mensagem. Nas ditaduras, os seus sinais parecem mais facilmente identificáveis. Mas, o fenómeno é global e histórico.
A disseminação de imagens tem sido um dos desenvolvimentos tecnológicos mais utilizados pela desinformação, para dar uma aparência credível à informação.
Com o avanço da tecnologia, os chamados deepfakes entraram no último ano: vídeos ou clipes de áudio nos quais, as máquinas conseguem colocar o rosto de uma pessoa específica no corpo de outra.
2. O que é diferente na era da Internet?
A principal diferença é evidente: houve um processo brutal de desintermediação que diminuiu as barreiras à entrada na comunicação. Com o Facebook e o Twitter, os fornecedores modernos de desinformação, precisam apenas de um computador ou de um smartphone e uma ligação à Internet. para atingir um público potencialmente significativo.
Nem é necessário dar a cara, pode tomar a aparência de alguém ou outra coisa, como um movimento popular. A tecnologia permite implantar exércitos de pessoas, conhecidas como trolls e os chamados bots da Internet, utilizando um software que executa tarefas automatizadas rapidamente, para conduzir campanhas de desinformação em larga escala.
Embora "haja um certo sentimento de que existe uma descentralização, a propaganda ainda está nas mãos de quem realmente a pode fazer, sejam estados, governos ou grupos de poder", diz Pablo Sapag, professor de História da Propaganda na Universidade Complutense de São Paulo.
De uma crise mediada internacionalmente ao dilema histórico interno, "a propaganda só é eficaz se for feita profissionalmente e aqueles que têm capacidade de a fazer não são os indivíduos, são organizações, estatais ou não".
Os governos tem a capacidade de gerar enormes quantidades de mensagens que veiculam ódio digital para difamar activistas ou jornalistas críticos, reprimir dissidências, minar oponentes políticos, espalhar mentiras e controlar a opinião pública.
3. Quem é o principal responsável pela desinformação?
Este ano, vários pesquisadores da Universidade de Oxford encontraram evidências de "campanhas de manipulação das redes sociais" por governos ou partidos políticos em 70 países, em comparação com apenas 28 países em 2017.
O Facebook é, como esperado, o principal local onde a desinformação se espalha. Todos os olhos dos investigadores de Oxford são geralmente direccionados para a Rússia. Mas o relatório de Oxford observa que a China tornou-se "num actor importante na ordem mundial de desinformação". Juntamente com esses dois países, outros cinco, Índia, Irão, Paquistão, Arábia Saudita e Venezuela, usaram o Facebook e o Twitter "para influenciar o público global".
4. O que é que se pode dizer sobre a China?
Tanto o Twitter como o Facebook, revelaram em Agosto, uma operação de informações apoiada pelo estado chinês, lançada em todo o mundo, para deslegitimar o movimento pró-democrático em Hong Kong. Na ocasião, o Twitter afirmou ter eliminado 936 contas que estavam "deliberada e especificamente a tentar semear discórdia política em Hong Kong". O Facebook afirmou ter encontrado uma operação semelhante, apoiada pelo governo chinês, e eliminou contas falsas. Afirmaram que não querem que os seus serviços "sejam usados para manipular pessoas".
5. E a Rússia o que faz?
Um estudo realizado pela Rand Corp. sobre o conflito no leste da Ucrânia, que matou cerca de 13.000 pessoas desde 2014, descobriu que o governo russo, sob a presidência de Vladimir Putin, conduziu uma sofisticada campanha nas redes sociais que incluía notícias falsas, bots do Twitter, comentários não atribuídos em sites e promoção de hashtags para "mobilizar apoio, espalhar desinformação e ódio e tentar desestabilizar a situação". Outra iniciativa russa conhecida é o que ocorreu durante a campanha eleitoral presidencial dos EUA em 2016, alcançou milhões de eleitores americanos com publicações e anúncios falsos para influenciarem o seu sentido de voto.
6. Como é que as empresas das redes sociais estão a responder?
Apesar de os gingantes informáticos serem os principais beneficiários, foram os legisladores que pressionaram as empresas. O Facebook e a Google, começaram a exigir que os anúncios de conteúdo político publicados nos Estados Unidos e na Europa revelassem quem está na sua origem.
A divisão do YouTube da Google também afirma ter ajustado os algoritmos que, decidem sobre os vídeos que aparecem nas posições cimeiras, de modo a limitar as recomendações de supostos vídeos falsos ou inflamatórios, um fenómeno que resistia há anos.
O WhatsApp, uma subsidiária do Facebook, limitou para cinco o número de pessoas ou grupos aos quais uma mensagem pode ser reencaminhada. A empresa diz que passou 18 meses a preparar-se para as eleições na Índia em 2019. Bloqueou e excluiu contas falsas, testou tentativas de invasão e fez parceria com verificadores externos, para combater chamadas falsas de notícias.
O Facebook, também anunciou recentemente que desenvolveu ferramentas de inteligência artificial, para ajudar a identificar conteúdos abusivos ou que violem as políticas do site.
Após o massacre de 15 de Março em Christchurch, na Nova Zelândia, O Facebook, Google e Twitter assinaram voluntariamente um acordo com os líderes mundiais, onde se comprometem a combater o discurso de ódio online.
O Facebook, finalmente, está a negociar com os principais jornais dos EUA um serviço de notícias que será mantido por seres humanos.
(Mais em informação no El País)