Quando era director do El Mundo havia quatro jornais com vendas nacionais de mais de 100 mil exemplares e dois com vendas de mais de 200 mil. Agora só há um, o El País, com mais de 100 mil, que dentro de um ano ou dois baixará desse número.Não ficará nenhum jornal que venda mais de 100 mil cópias nos quiosques num país de 45 milhões de habitantes. Isso é insustentável! Do ponto de vista dos custos, da distribuição… Os jornais tradicionais teriam de custar dez euros para poderem sobreviver!”  (...)

 

Sobre a questão de conseguir assinantes para jornais online:

“O El Español tem mais de 13 mil subscritores. Mas reconheço que está a ser mais difícil crescer em assinantes do que em utilizadores.
Neste país nenhum dos principais meios tem aberta essa linha de negócio e é muito difícil a um recém-chegado, a um nativo, consegui-lo. Ainda assim, 13 mil subscritores pagos é muitíssimo! Mas, da mesma maneira que disse ‘O futuro será digital ou não será’, digo agora ‘O modelo de negócio ou será misto, ou não será’. Há que estabelecer no mundo digital a combinação de entradas de publicidade com a venda de conteúdos, através de subscrições ou micropagamentos. Os grandes meios que resistem a seguir esse caminho terão que render-se à evidência.”

 

À pergunta da entrevistadora, Filomena Martins, sobre se é possível fazer jornalismo digital com menos pessoas:

 “Com menos pessoas, sim. Com menos jornalistas, não. A grande diferença e a grande vantagem do mundo digital é que os recursos industriais são intensivos. É verdade que é preciso ter infraestrutura de vídeo, mas custa o mesmo um vídeo para uma pessoa do que para um milhão.No mundo tradicional, cada exemplar que se vende tem um custo adicional de papel, rotativa, tinta, transporte. Quando esse custo é maior que o preço de capa, a dependência da publicidade é grande. Quando a publicidade cai e a circulação também baixa, esse custo sobe. E a maior parte dos jornais tradicionais está a vender com um preço de capa inferior ao custo industrial de produzir esse jornal: é o caminho para a ruína.Para o Observador ou para o El Español, esse custo é zero. E essa é a chave. Podemos concentrar todos os recursos nos conteúdos, em fazer bom jornalismo.”


Depois de explicar que trabalhava com 300 pessoas no El Mundo, Pedro Ramírez prossegue, sobre a situação no El Español:

“No total da empresa somos 105, na redação 72, 73. É mais difícil porque a ambição e o desejo de oferecer conteúdos de interesse é o mesmo e são menos para os fazer. Mas também é mais emocionante porque se trabalha de forma mais directa com todas as pessoas da redação.”

 

Sobre a sua saída da direcção do El Mundo, de onde foi demitido em 2014, e sobre o facto de ter investido a indemnização no novo projecto:

“Investi toda a indemnização! Tudo o que me deixou o Governo depois de cobrar os impostos. No total foram quase seis milhões… O que lamento é que a fiscalidade tenha sido tão alta e eu não tenha podido investir mais.Tenho a idade da canção dos Beatles, When I'm 64, e aos 28 anos era director do Diario 16. São 36 anos disto… carajo…Para mim ser director é ocasional, o que eu sou é jornalista. Quando me nomearam a primeira vez pensei que era por pouco tempo. O que não gostei foi de deixar de ser director porque Felipe González o decidiu, ou porque Mariano Rajoy o decidiu. Voltei a fundar um jornal porque ninguém mais me contratava. Não ia ficar no desemprego…” (...)

 

“Com o dinheiro que me pagaram por me terem demitido do El Mundo poderia ter vivido muito bem em qualquer sítio do mundo, por muito tempo. Mas para mim viver bem é dedicar-me ao jornalismo.”

 

Mais informação na entrevista ao Observador  e as 25 Obsessões (tornadas 30 em Outubro do ano passado) que constituem o programa editorial de Pedro Ramírez para o El Español