Fim de semana mediático de “três em um”

Sobre estas escolhas e estes equilíbrios, o editorial do i faz uma boa síntese: o Papa não é consensual, “mas conseguiu tornar-se uma referência para um número elevado de não crentes”; o “Tetra” do Benfica “tornou feliz uma família imensa, mas na porta do lado chorava-se”.
Mas “Salvador Sobral e o Papa Francisco fazem ressurgir das cinzas dois valores que os tempos modernos enterraram: a simplicidade, a modéstia - dois valores por acaso cristãos, mas não era preciso ser-se cristão para os partilhar.”
Um relance pelas capas dos jornais de domingo dá-nos precisamente a expressão visual das referidas escolhas e equilíbrios. As três vitórias são tratadas com o mesmo destaque relativo, em três imagens, na primeira página do Público de domingo e na ilustração de uma das primeiras peças publicadas no jornal online Observador, ainda na madrugada de domingo, intitulada “Crónica. O Salvador e a Senhora do Marquês”, assinada por Alexandre Borges.
Noutros jornais, fazem-se outras escolhas. O Jornal de Notícias dá a metade de cima da primeira página ao Benfica, com os outros dois temas por baixo, em imagens da menor dimensão: o Papa em Fátima, com o “menino-milagre”, e Salvador Sobral em Kiev. O Correio da Manhã faz o mesmo com o Benfica, no espaço da metade superior, e uma imagem pequena do Papa com o menino, mas sem o vencedor da Eurovisão. O Diário de Notícias põe Salvador Sobral no terço superior da página, e por baixo o Benfica, já sem qualquer imagem ou título sobre Fátima.
O i de segunda-feira optou por uma solução curiosa, com a capa inteiramente ocupada pelo “Salvador da Pátria”, e a contra-capa pelo “Festival Benfica”. Mas o editorial, já aqui citado, tem por título - “O que têm em comum Salvador e o Papa?”
O Público de segunda-feira (aliás como outros diários portugueses) dá o maior destaque de primeira página à recepção de Salvador e Luísa Sobral no regresso da Kiev, com uma crónica na última página em que Rui Tavares reflecte sobre o “ineditismo” de Portugal “começar a ganhar em eventos artísticos e desportivos europeus”, propondo como primeira resposta que “com equipas coesas e muito profissionais, que exijam a si mesmas trabalhar a alto nível, é mesmo possível levar boas ideias a ganhar”.
O diário El País, na sua edição de domingo titulava “Portugal gana Eurovisión a golpe de modestia”, e na de segunda publica uma crónica de reflexão sobre o ocorrido, cujo título resume o essencial: “La lección de Salvador Sobral en el disparate de Eurovisión - El portugués ha conseguido que triunfe la música sobre el espectáculo televisivo”.
Mais informação sobre o eco internacional da vitória na Eurovisão na galeria do Observador