“No segundo trimestre deste ano, a receita da publicidade em papel, nos jornais do grupo McClatchy, tinha caído 26,4% [em relação ao período homólogo de 2017]. A do grupo Gannett caíu 19,1%, a do Tronc 18%. Eles já não estão a obter mais assinaturas dos jornais impressos, e as actuais ou se mudam para o digital ou vão morrendo dia após dia.” (...) 

“Mesmo os editores mais a favor do jornal em papel vão reconhecer que, um dia, as linhas do ‘custo da impressão’ e das ‘receitas da impressão’ vão cruzar-se nas projecções do contabilista, e nessa altura será preciso parar as máquinas de vez. A única questão é quando: dois anos? Cinco, dez? Trinta?” (...) 

O estudo aqui citado, de Neil Thurman e Richard Fletcher, começa pelo caso do diário britânico The Independent, que se tornou exclusivamente digital em Março de 2016. 

Joshua Benton compara a audiência total dos principais jornais britânicos de expansão nacional, antes e depois da mudança operada no Independent, reproduzindo dois gráficos elucidativos do estudo. 

O primeiro mede a audiência total, o segundo a atenção total recebida por The Independent

“Quando encerrou as impressoras, The Independent tinha uma circulação paga de apenas 40 mil exemplares  -  em contraste com os 58 milhões de visitantes mensais únicos no digital. Ora 58 milhões parecem muito mais do que 40 mil! Mas Thurman e Fletcher descobriram que esses poucos leitores do jornal em papel eram responsáveis por cerca de 81% de todo o tempo consumido nos conteúdos do Independent. Tudo o que as suas plataformas digitais conseguiam era apenas 19%.” 

“Ou, por outras palavras: num mês típico, uma única assinatura do jornal impresso gerava, em média, um consumo real de 6.100 vezes aquele de um [visitante] mensal único no site ou na aplicação. Não é uma comparação perfeita: as [visitas] mensais únicas procuram contar pessoas, enquanto a circulação conta exemplares. Mas o argumento é claro. Os leitores do papel são de longe, mas muito de longe, melhores consumidores de notícias do que os digitais.” (...) 

“O gráfico revela que todo o tempo que os leitores de The Independent gastavam... desapareceu quando o jornal impresso desapareceu. Não se transferiu para o independent.co.uk. A procura foi para outro lugar  - ou para outro site noticioso, para uns minutos de scroll no Facebook, para o Netflix, o Fortnite, uma sesta depois do almoço ou qualquer outra coisa que captou a atenção da pessoa.” 

“Thurman e Fletcher calculam que, nos doze meses antes e depois do fim da impressão, o total do tempo gasto no consumo do Independent caíu de 5.548 mil milhões de minutos para 1.056 mil milhões. Metade dos seus leitores em papel liam o jornal ‘quase todos os dias’. Os seus visitantes online lêem, em média, pouco mais do que um artigo duas vezes por mês. Os leitores em papel gastavam, em média, 37 a 50 minutos com cada edição diária que liam. Os leitores da edição digital gastam, em média, seis munotos por mês.” (...) 

Mesmo contando com todas as diferenças envolvidas  - e Joshua Benton compara as experiências relativas da Imprensa britânica e da norte-americana, admitindo que muitos leitores britânicos não vão comprar jornais impressos nos EUA mas podem consultar os seus sites -  a sua conclusão é a de que “o encerramento da edição impressa é o derradeiro corte de custos; uma grande parte da estrutura de custos de um jornal está relacionada com as suas enormes impressoras do tamanho de edifícios, e florestas do Canadá e barris de tinta”. 

“Mas quando esse dia chegar  - mesmo se isso melhora a linha da base [do orçamento] de um jornal -  não é provável que a audiência o siga. E isso significa aceitar um declínio dramático de alcance, influência e impacto.” 


O artigo original, na íntegra, no NiemanLab