O Facebook permite que os líderes políticos utilizem a plataforma para seu próprio benefício, devido a uma falha nas directrizes da rede social, denunciou uma investigação do “Guardian”.
Desta forma, a plataforma tem sido eficaz na denúncia de casos relativos aos EUA, Coreia do Sul e Polónia, enquanto minimiza os problemas de países subdesenvolvidos, ou de regimes autoritários.
Para esta investigação, o “Guardian” analisou 30 casos de 25 países e contou com a colaboração de Sophie Zhang, ex-analista de dados do Facebook.
Zhang foi contratada em 2018 e passou a integrar uma equipa que investiga casos de “interacções falsas” -- que incluem “gostos”, comentários e partilhas. Acabou por ser dispensada dois anos depois.
Durante o período em que colaborou com o Facebook, Zhang ficou responsável por descobrir contas falsas, que interagissem com as publicações de figuras políticas ou conteúdos noticiosos, de forma a manipular o algoritmo da rede social e favorecer o regime de um determinado país.
Zhang ressalva, neste sentido, que existe uma falha nas directrizes da rede social, que continua a permitir este tipo de interacção.
Isto porque, segundo recordou aquela ex-colaboradora, o Facebook apenas controla a autenticidade de páginas privadas.
Isto é: se o Facebook detectar que uma determinada página pessoal interage, de forma suspeita, com as publicações de figuras políticas, realizará uma investigação sobre a autenticidade da conta.
Contudo, o mesmo não se aplica a páginas de negócios ou produtos. Assim, os governos têm liberdade para criar este tipo de contas, e “fabricar” interacções, para que o regime vigente seja favorecido “online”.
“Há muita coisa má a ser feita pelo Facebook”, afirmou Zhang. "O custo não é suportado pela empresa. É suportado pelo mundo”.
Zhang destaca, neste sentido, o caso de Juan Orlando Hernández, presidente das Honduras, que, em 2018, estava a receber 90% de todas as interacções falsas registadas naquele país.
Nesse ano, Zhang chegou à conclusão de que a equipa de Hernández era responsável pela maioria do conteúdo falso produzido, de forma a aumentar a relevância do líder político naquela plataforma “online”.
O mesmo aconteceu no Azerbaijão, onde foram criadas milhares de contas falsas, para assediar páginas de jornalismo independente.
Contudo, os responsáveis pela rede social rejeitaram, durante muito tempo, investigar estes casos.
Aliás, o Facebook demorou mais de um ano a desmantelar a rede hondurenha, e 14 meses para eliminar a campanha do Azerbaijão.
De acordo com Zhang, isto acontece porque o Facebook tem uma lista de países prioritários.
Assim, as redes de interacções falsas de países “ocidentalizados”, como a Polónia, o Taiwan, a Índia, a Indonésia, a Ucrânia, a Coreia do Sul e a Itália, demoraram entre 1 e 67 dias a ser eliminadas.
Por outro lado, as campanhas de países como Afeganistão, Equador, Argentina, Paraguai, México e Azerbaijão, foram desmanteladas num prazo de 94 a 426 dias.
Além disso, em muitos casos, o Facebook não tomou qualquer medida.
Leia o artigo original em “Guardian”