Estas questões  - evidentemente delicadas -  são postas com franqueza num artigo intitulado “Atentados terroristas põem a ética jornalística na linha de fogo”, divulgado pelo Observatório da Imprensa do Brasil, com base na tradução de um texto original de James Rodgers, publicado no site da Ethical Journalism Network  -  Rede por um Jornalismo Ético.

 

Nele se afirma:

“Os jornalistas têm uma responsabilidade maior em tempos de guerra ou de uma crise nacional do que em qualquer outro momento. O seu papel é fundamentalmente importante para a compreensão, por parte dos eleitores, daquilo que os seus líderes propõem em seu nome. Desde o 11 de Setembro, o mundo parece ter assistido a um esforço crescente, em tempo e dinheiro, de governos mais interessados do que nunca em fazer com que seja compreendido o seu lado da história.”  (...)

 

James Rodgers fala, a seguir, de vários outros casos, envolvendo outras potências:

 

“Um exemplo disso é o deslocamento maciço de recursos de media pela Rússia para mobilizar uma opinião pública incentivadora às suas políticas na Ucrânia e na Síria. Nesse caso, muitos jornalistas russos se mostraram dispostos a apoiar a política externa do seu país. Considerando o tom esmagadoramente patriótico da cobertura russa de assuntos internacionais contemporâneos, talvez essa seja a única opção para quem quer ter tempo de antena.”

 

Hoje professor sénior na City University, em Londres, James Rodgers continua a pensar que as coisas não são tão simples. Ainda a respeito da proclamação do Presidente George W. Bush, logo após o 11 de Setembro, ele afirma:

 

“Esta advertência pode não ter sido especificamente dirigida aos jornalistas. No entanto, o melhor modo de fazer reportagem deixa frequentemente espaço para uma margem de interpretação; ‘connosco ou contra nós’ não deixa. Um dos papéis do jornalismo numa democracia é falar a verdade ao poder, e não simplesmente aceitar as regras do poder.”

 

E o autor conclui: 

“A ascensão do Estado Islâmico, tanto quanto os atentados em Bruxelas, mostram o valor do bom jornalismo. A primeira, devido à sua ausência inicial do noticiário  – daí, a surpresa que acompanhou os avanços territoriais do grupo no Iraque e na Síria; e os segundos por terem dito às pessoas como é o mundo em que elas vivem. Poucos fizeram, ou quiseram fazer, reportagens sobre a ascensão do Estado Islâmico. A sua tomada de territórios e de campos de petróleo veio como um choque.” 

“O ideal seria os jornalistas fazerem o seu trabalho sem terem que defender um lado  – embora alguns ainda optem por fazê-lo, como percebemos pelas lamentáveis tentativas de alguns colunistas favoráveis à saída da Grã-Bretanha da União Europeia, de usar os atentados de Bruxelas como argumento político.” 

“Num mundo em que, apesar da sua complexidade, os jornalistas sofrem pressões para estarem ‘connosco ou contra nós’, o seu ofício não tem modo de funcionar adequadamente  – e isso é uma perda para todos nós.”

Mais informação no Observatório da Imprensa e o artigo original