O público tem vindo a afastar-se das notícias e muito se deve aos “estímulos assustadores” a que estas se encontram associadas, referiu Joshua Benton na NiemanLab.
Um estudo realizado por Benjamin Toff e Rasmus Kleis Nielsen, para a revista Political Communication, citado pelo jornalista, examinou as perspectivas dos leitores de classe média e baixa, no Reino Unido, que acedem a poucas ou a nenhumas notícias.
No estudo “How News Feels: ansiedade antecipada como factor na prevenção de notícias e barreira ao envolvimento político”, os investigadores chegaram à conclusão de que a atitude dos leitores perante as notícias reflecte as suas perspectivas preexistentes sobre as mesmas. O público encara a informação como “indutora de ansiedade” e considera-a com pouco valor prático para seu o dia-a-dia.
Para a investigação, foram entrevistadas diversas pessoas dentro do universo em estudo, entre Novembro de 2016 e Março de 2017. Durante este período, decorreram as eleições nos EUA, os dois primeiros meses de mandato de Donald Trump e, no Reino Unido, fez-se o referendo para o Brexit.
Apesar da possível influência do contexto social, os entrevistados consideraram que o conteúdo real das notícias era “intensamente negativo” e sem informação relevante para as suas vidas. Também, muitos consideraram que estar informado é um dever cívico, mas que as normas encorajadoras para o consumo de notícias são ineficazes.
Além destas primeiras conclusões, os entrevistados referiram as notícias como uma fonte de incerteza, o que se torna num obstáculo ao seu envolvimento político profundo.
Uma das principais razões para o divórcio relativamente à informação, apontadas pelos entrevistados, foi o predomínio de assuntos como crimes e guerras. Isto porque, muitas vezes, o factor “proximidade” leva a uma maior preocupação e a um maior alarmismo por parte dos leitores, ouvintes ou espectadores. Assim, há, também, quem considere as notícias “muito deprimentes” pelos relatos trágicos conhecidos.
Se, por um lado, há quem veja as notícias como livres de substância e “sem sentido”, por outro, há quem as associe à política e, por isso, as consideraram “aborrecidas”. Em comum, têm a falta de interesse, por não se identificarem com o conteúdo noticiado.
Para os entrevistados, a confusão que caracteriza as notícias, revela-se, também, um factor de desinteresse. Muitos consideram-se “perdidos” no acompanhamento da actualidade e, por isso, acabam por desistir da informação. Também, o sentimento de impotência em relação ao mundo à sua volta, revelou-se uma das razões para deixarem de parte as notícias.
No entanto, muitos entrevistados acabaram por fazer a sua própria auto-crítica a propósito da sua falta de interesse em consumir informação. Em comum, todas as respostas revelaram subjacente uma apreciável ansiedade perante essa experiência com a antecipação. Ou seja, para suportarem a ansiedade, há quem prefira estar menos informado.
Assim, a fuga às notícias é, ironicamente, apresentada como uma escolha razoável.