“As actuais questões de fundo para os meios noticiosos  - velhos ou novos, pequenos ou grandes, privados ou públicos -  têm de ser sociais e culturais: Como pode o jornalismo recuperar a sua relevância, significado e proeminência credível na sociedade? Como pode o jornalismo reatar com os cidadãos?” 

De uma lista inicial de 120 meios de comunicação, os dois autores, Per Westergaard e Soren Jorgensen, acabaram por se focar em 54, incluindo uns novos e outros tradicionais, os que já nasceram no digital, estações de rádio e televisão e jornais impressos. Foram escolhidos porque estão a testar novas ideias, em áreas como as do envolvimento jornalístico, a cooperação, a escuta e o activismo. 

Mas, ao mesmo tempo, são exemplos que “demonstram que novos modos de se relacionarem com os cidadãos e de os envolverem [no processo] dão melhores resultados em termos de satifação dos utentes, de circulação, de audiência e de receitas”. 

Chegaram a nove conclusões principais, que aqui se resumem:

  1. – Da neutralidade à identidade.  Muitos media procuram hoje definir claramente o seu perfil e identidade. Esta necessidade é maior “quando os conteúdos noticiosos online são espelhados em pequenos pedaços indistintos pela Internet”. E para levar as pessoas a relacionarem-se consigo, “tem de lhes mostrar por que razões se bate”.
  2. – Do “cabe-tudo” ao nicho de audiência.  Tirando alguns poucos media de alcance global (The Guardian, a BBC, a CNN), todos os meios podem hoje ser considerados de nicho. Muitos hesitam em aceitar isto, porque o valor democrático da noção de nicho é controverso. Mas é possível tornar compatíveis “um jornalismo de qualidade, de elevado valor público, cuidando ao mesmo tempo de audiências específicas”.
  3. -  Do rebanho ao clube.  Trata-se aqui daquele movimento, hoje a afirmar-se dos dois lados do Atlântico, que procura “transformar os que eram conhecidos como assinantes, ou leitores, em ‘membros’, que têm de se registar ou pagar para aderir aos círculos interiores da multidão em torno dos media”.
  4. -  Da tinta ao suor.  Muitos media procuram hoje novos modos de criar um jornalismo físico, na forma de eventos públicos, festivais, espectáculos. “O diário francês Le Monde tem feito de encontros ao vivo uma via importante para se relacionar com os cidadãos e gerar novas fontes de receita.”
  5. -  Do falar ao escutar.  O jornalismo tradicional parece-se mais, frequentemente, “com uma fortaleza do que com uma casa aberta e acessível”. Muitos media estão hoje a abrir-se, fisica e mentalmente. “Isto significa escutarem os cidadãos e criarem mais transparência em matérias editoriais.”
  6. – Da distância à cooperação.  O jornalismo moderno mantinha as suas distâncias à porta da redacção, em relação ao público, a grupos de interesses, instituições públicas ou privadas, decisores. Hoje há mais redacções a envolverem os cidadãos no processo jornalístico. São citados os exemplos de De Correspondent, na Holanda, de Correctiv, na Alemanha, e da ProPublica, em Nova Iorque.
  7. -  Da sua própria a outras plataformas.  Trata-se aqui do recurso às redes sociais, que é uma “espada de dois gumes”, mas que, se for bem usada, talvez mais num modo de cooperação do que de distribuição, “pode reforçar e aprofundar o envolvimento, criando ao mesmo tempo um jornalismo mais forte”.
  8. -  Do problema à solução.  “Mesmo jornalistas de investigação mais endurecidos já descobriram que adquirem mais impacto se acrescentarem ao seu trabalho um nível de busca de soluções.” Este “jornalismo construtivo” cria mais envolvimento, que lê mais e se dispõe também mais a partilhar.
  9. -  De observadores a activistas.  Alguns media, antigos ou novos, estão a experimentar se conseguem criar mais relevância junto da sua audiência envolvendo-se em deterninadas campanhas. Isto é controverso para muitos jornalistas, e claro que não é uma estratégia que sirva para tudo. O livro descreve alguns casos interessantes.

 

Os autores sublinham, a concluir o artigo que aqui citamos, que não pretendem promover um modelo exclusivo de jornalismo para o futuro, mas que pode haver muitos que transportem consigo esta esperança.


O artigo aqui citado, na íntegra, no NiemanLab