Empresas jornalísticas em perigo face a processos judiciais
O artigo que aqui citamos foi publicado na Columbia Journalism Review, mas uma das mais recentes contribuições de Trevor Timm para o jornal britânico The Guardian, onde é colunista regular, trata do mesmo assunto, sugerindo que pode mesmo vir a ter “um efeito directo” sobre as eleições presidenciais nos EUA.
Aquilo que conta é que “os mesmos advogados que Thiel financiou em proveito de Hulk Hogan e outros já têm dois novos clientes ricos e poderosos: Melania Trump, a mulher do candidato republicano à Presidência, e Roger Ailes, o ex-director da Fox News, caído em desgraça”.
Segundo o Financial Times, Roger Ailes admite pôr um processo contra a revista New York e o seu repórter de investigação Gabriel Shermann, famoso pela sua reportagem minuciosa sobre inúmeras alegações de assédio sexual, contra Ailes e a Fox News.
Melanie Trump já intentou um processo contra o Daily Mail e um blogger obscuro, pedindo 150 milhões de dólares por textos sugerindo que em tempos ela trabalhou como acompanhante.
Trevor Timm diz que muitos jornalistas estão confiantes na protecção permanente da Primeira Emenda, para todos estes casos, mas esta pode ser “uma visão perigosamente míope”:
“É verdade que as empresas noticiosas têm enfrentado processos por difamação durante décadas (e, felizmente, o nosso país tem as defesas mais robustas do mundo contra eles). Mas os anteriores queixosos em processos por difamação estavam, tradicionalmente, em busca de um acordo e/ou uma retractação. E se agora pessoas como Ailes e Trump, como Thiel antes deles, não estiverem em busca disso? Hogan estruturou o seu litígio de modo a causar o maior dano à Gawker, rejeitando ofertas de acordo com o único propósito de forçar a empresa a gastar o máximo possível de dinheiro.” (...)
O autor interroga-se sobre quantas empresas jornalísticas, a partir de agora, não irão deixar cair reportagens envolvendo figuras controversas, “só para evitar anos de problemas legais e contas astronómicas”; ou quantos jornalistas não vão sequer começá-las, antes de tudo, sabendo a quantidade de burocracia que teriam de vencer só para conseguir publicá-las.
E quanto à suposta segurança protectora da Primeira Emenda, conclui:
“Peter Thiel demonstrou que isto não é sempre, necessariamente, o que sucede, e todos nós devíamos ficar preocupados que outros multimilionários possam agora estar a sentir o cheiro do sangue.”
Os textos de Trevor Timm, no jornal The Guardian e na CJ Review, a que pertence a imagem de Peter Thiel