Eduardo Catroga: “Os países periféricos desperdiçaram endividamento externo fácil e barato”.

Na sua intervenção, Eduardo Catroga acentuou que “Não nos iludamos nesta fase. As reformas estruturais que as economias europeias necessitam para impulsionar a sua competitividade, o seu crescimento potencial, o investimento produtivo e o emprego, têm que ser essencialmente nacionais.”
E a propósito ainda da oportunidade perdida pelos países periféricos, lembrou que se "aplicaram antes, durante muitos anos, a poupança externa que capturaram (ao mesmo tempo que reduziram a poupança interna) em sectores infraestruturais, nos sectores fracamente expostos à concorrência internacional (construção, habitação…) e em consumo privado e público.”
A segunda vaga da crise, em 2010-2012, “desenvolve-se devido à subida rápida das taxas de endividamento público directo e indirecto (uma parte significativa até aí «oculta») que os investidores privados se recusam a continuar financiar em condições normais devido à perceção de «risco país» elevado; trata-se agora de uma crise das dívidas soberanas, de um problema de solvabilidade financeira orçamental, o que conduziu de novo a uma forte alta das taxas de juro e à queda do PIB”.
Eduardo Catroga referiu-se depois às correntes de pensamento, em especial na Grécia, na Espanha e em Portugal, segundo as quais “foi a estratégia económica executada na zona euro a partir de 2008 que provocou, sobretudo nos países periféricos, o recuo do poder de compra da população, o empobrecimento relativo e o aumento do desemprego”. Teria sido possível outra estratégia?
“O problema é que, em 2008, todos os países chamados periféricos estavam numa situação de défices externos e dívidas externas muito elevadas. Défices públicos elevados na Grécia, Portugal e Itália; excesso de endividamento privado em Espanha, Portugal, Irlanda, Itália; perda de competitividade em Itália, Espanha e Portugal; fraca dimensão em geral do sector da indústria transformadora (com exceção da Irlanda). O restabelecimento da sua solvabilidade externa era um imperativo. Não havia alternativa, em tais condições.”
Eduardo Catroga teve em conta a ausência de Federalismo nas instituições europeias, bem como a impossibilidade de desvalorização das moedas como paliativo para melhorar a curto prazo as suas contas externas e, com tais condicionantes, concluíu: “A discussão pode concentrar-se nas vias utilizadas para reduzir a procura interna (redução do investimento, do défice público, e de que maneira, baixa dos salários e pensões, aumento de impostos), mas não sobre o facto de, nessa situação e nos constrangimentos existentes, ser sempre necessário reduzir a procura interna. Logo, o ajustamento macroeconómico seria sempre incontornável.”
Eduardo Catroga debruçou-se a seguir sobre a possibilidade e as limitações de políticas orçamentais e monetárias mais expansionistas, sobre objectivos e efeitos do Quantitative Easing lançado pelo BCE na zona euro, e concentrou-se, num último capítulo, sobre as questões estruturais chave da economia europeia. Referiu-se de novo às “consequências da falta de Federalismo no desencadeamento de crises na balança de pagamentos dos Estados-membros que não consigam gerar o equilíbrio externo das suas economias”, e disse: “O ‘antídoto’ para esta questão, para além da necessária disciplina financeira, passa por uma política económica europeia mais integrada, o que exigirá mais integração política. (…/…) Mas existem muitas dificuldades à concretização deste desiderato. Até porque existem preferências políticas e sociais diferentes.”
E concluíu: “O que tem faltado ao nível nacional, em muitos países, é consenso político ou a vontade política para reformas estruturais profundas e de qualidade, adaptadas ao novo contexto competitivo da globalização.”