Edição especial de “Charlie Hebdo” no aniversário do atentado
O autor recorda que há quatro anos, “no mesmo dia do atentado contra Charlie Hebdo, uma espécie de escritor maldito francês, pois não se enquadra em nenhuma categoria ou escola político-literária, Michel Houellebecq, havia lançado como provocação um livro que já falava desse retorno ao obscurantismo religioso imposto a todos os franceses de uma maneira dócil mas firme”.
Refere-se a “Submissão”, um livro de ficção que imagina o cenário eleitoral em que os franceses elegem, “com o apoio dos socialistas, um presidente muçulmano para escapar do extremismo nacionalista de direita de Marine Le Pen”. (...)
Rui Martins acrescenta, mais adiante:
“Sem querer ser Cassandra com suas más profecias, isso logo vai acontecer. Porque mais dia menos dia, os muçulmanos terão o apoio do clero católico e dos evangélicos exportados pelos americanos que, mal conseguiram decidir o resultado das eleições brasileiras, já querem influir no currículo das escolas, acabar com o ensino do darwinismo e evolução das espécies para impor o criacionismo de Adão e Eva. Além de rejeitarem o ensino da sexualidade nas escolas.” (...)
“Tanto para Riss, o director da publicação, como para Gérard Biard, redactor-chefe, tudo vai se tornando blasfematório, enquanto a sociedade francesa vai se tornando anti-Iluminista, recua a liberdade de expressão e aumenta a intolerância.” (...)
“Gérard Biard cita o peso da ameaça ideológica sobre a sociedade francesa que visa o universalismo, o espírito científico e tudo quanto permite a emancipação individual e coletiva. Guardadas as proporções e as diferenças entre evangelismo e islamismo, percebemos que desses três itens, pelo menos dois são também abominados por alguns membros religiosos do governo Bolsonaro — o universalismo e o espírito científico.”
O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa