O autor começa por afirmar que a capacidade que têm os media de promover debates públicos, estabelecendo a agenda noticiosa, pode ser uma força pelo bem, quando desempenham a sua função de vigilantes democráticos num espaço público plural, mas “podem também servir lógicas de interesse comercial e as suas próprias agendas políticas e ideológicas”.

Neste terreno, segundo Franco Zappettini, há poucos exemplos do papel instrumental desempenhado pela Imprensa na construção de percepções públicas que sejam mais relevantes do que o modo como os tablóides britânicos têm historicamente feito a cobertura das relações entre a União Europeia e o Reino Unido e, mais recentemente, do Brexit.

“Na maioria dos discursos políticos”  - como afirma -  “o termo ‘povo’ tende a ser invariavelmente invocado de um modo semântico vago e retórico. Mas o que torna um discurso populista diferente de um discurso democrático é que o primeiro retrata o povo em oposição aos seus imaginários inimigos e, tipicamente, em termos exclusivos em vez de inclusivos.”

O seu estudo incidiu precisamente sobre o modo como a expressão the people foi usada pelos tablóides durante a campanha para o referendo, revelando que era consistente com o entendimento populista do mundo em termos binários. 

“Durante a campanha, os tablóides tendiam sempre a retratar o povo britânico [the British people], por vezes também designado ‘comum’ [ordinary] ou ‘trabalhador esforçado’ [hard-working people] como um grupo distinto, antagonizado por outros grupos de pessoas  -  estas, por sua vez, designadas frequentemente ou como migrantes vindos da União Europeia, ‘livres para entrarem’ no Reino Unido, ou elites ‘desligadas’.” 

“A Imprensa tablóide identificou também estas últimas como inimigas do ‘povo britânico’, sendo internacionais (por exemplo a UE, Bruxelas, os ‘Eurocratas’, o FMI, o Presidente Obama) ou domésticas (por exemplo Westminster, os ‘peritos’ e os defensores do Remain).” (...) 

“Apelos à ‘vontade do povo’ (e a deslegitimação dos apoiantes de um Brexit mais brando ou de nenhum Brexit como ‘imimigos do povo’) foram temas dominantes dos discursos públicos e institucionais.” (...)

 

O artigo aqui citado, na íntegra no European Journalism Observatory