“Diário dos Açores” celebra século e meio de vida…

A acção de Tavares de Resende insere-se na “geração de ouro açoriana”, na qual se incluem, ainda, os irmãos Ernesto e José do Canto, a criação da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense e a fundação da Sociedade dos Amigos das Letras e Artes.
O “Diário dos Açores” foi considerado revolucionário, à época, pela sua linha editorial irreverente e por fazer chegar a “nata lisboeta” da produção cultural território insular, ao publicando originais da Geração de 70.
Em 1892, já depois da morte de Tavares de Resende, a direcção do jornal coube ao seu sobrinho, Manuel Resende Carreiro, que assumiu o cargo durante 47 anos. Foi durante a sua direcção que se iniciou a publicação do suplemento infantil “Miau”, em 1934, destinado a incutir hábitos de leitura nos jovens micaelenses.
O “Diário dos Açores” colocou-se, também, na vanguarda técnica, tendo sido o primeiro jornal de São Miguel a utilizar uma máquina de composição mecânica. Em 1965 ,adquiriu a sua primeira rotativa.
De acordo com os seus editores, o jornal sobrevive devido ao respeito, preservação e divulgação do passado, assumindo-se como herdeiro de mais de um século de cultura e de identidade açorianas.
No editorial comemorativo, o director do jornal, Osvaldo Cabral, escreve que: “Faz hoje 150 anos que um pequeno grupo de entusiastas, liderados por Manuel Augusto Tavares de Resende (1849-1892), entrava ansiosamente na Tipografia de Manuel Correia Botelho, na Rua do Provedor nº 6, para imprimir, pela primeira vez, este jornal. Mantinham todos uma expectativa elevada, com o natural nervosismo de um pai que vê a primeira criança a nascer, cientes de que não tinham os mesmos recursos do “Diário de Notícias” de Lisboa, em quem se tinham inspirado quando apareceu cinco anos antes. 150 anos depois cá estamos, com as mesmas expectativas e com o mesmo entusiasmo dos nossos fundadores, mas com outros recursos e dificuldades diferentes, cumprindo a senda do sucesso que muitos almejaram nesta casa e labutaram ao longo deste século e meio”.
Noutra passagem do editorial de Osvaldo Cabral refere -se que: "Hoje os desafios são outros. E o maior de todos é manter o “Diário dos Açores” na procura da verdade, sem ceder às modas globais do presente, onde impera muita desinformação e interesses obscuros.Se ainda há quem procure veracidade nas notícias, ela só pode ser confirmada na comunicação social de qualidade, com profissionais sérios e sob o escrutínio dos reguladores. O cenário não é igual nas redes sociais, onde é cada vez maior o número de utilizadores que consultam apenas este meio para se informarem (63% da população), sendo que a maioria não consegue distinguir as notícias verdadeiras das ‘fake news’.Toda esta permeabilidade abre uma caixa de Pandora, em muitos sectores, mas sobretudo na política, com muitos a aproveitarem-se da ausência do escrutínio, da fragilidade dos média tradicionais e da ignorância dos leitores, para mentirem à vontade e apresentarem os seus factos sem contraditório"
Numa fase problemática da imprensa portuguesa, caracterizada pelo definhamento de vários títulos, é consolador verificar a vitalidade deste diário açoriano, que promete continuar a honrar o passado e a prestigiar o futuro.
O Clube Português de Imprensa felicita o “Diário dos Açores” e a sua direcção na oportunidade desta importante efeméride.
Consulte o editorial na íntegra em "Diário dos Açores".