“Desordem da informação” no Brasil provoca “linchamento”
A “desordem da informação”, caracterizada pela rápida disseminação de conteúdos através das redes sociais, tem, cada vez mais, a capacidade de condicionar e influenciar as atitudes dos seus utilizadores, resultando na utilização do discurso de ódio e, até mesmo, em actos de violência física.Quem o diz são os investigadores Nicole De March, Marina Fontolan, Leda Gitahy, e Alcides E. R. Peron que, num artigo publicado no “Observatório da Imprensa” – com o qual o CPI mantém um acordo de parceria – analisaram uma publicação feita no Facebook, que resultou na morte de uma cidadã brasileira.Conforme explicaram os autores, o “post” em questão foi partilhado na página de Facebook “Guarujá Alerta” que, em Abril de 2014, alegou que uma mulher daquela área estava a raptar crianças e a utilizá-las nos seus rituais de magia negra. A publicação incluía, ainda, um retrato da alegada “bruxa do Guarujá”, descrita como uma “mulher loura”.Ora, esta alegação resultou em reacções emotivas dos utilizadores daquela rede social, que se mostraram indignados perante estas alegações, prometendo vingar-se da mulher em questão.Assim, em 3 de Maio de 2014, um grupo de cidadãos do Guarujá agrediu Fabiane Maria de Jesus, uma vez que os seus traços físicos correspondiam à descrição partilhada no Facebook. A mulher acabou por morrer, dois dias depois.Depois disso, provou-se que os boatos não tinham fundamentação.Ora, de acordo com os autores, este tipo de comportamento é o resultado da “desordem informativa”, em que os indivíduos utilizam as plataformas “online” para partilhar “má-informação” – conteúdos com dados não verificados – e “desinformação” – cujo principal objectivo é impulsionar uma reacção emotiva, gerar consequências nefastas, e polarizar a sociedade.
Janeiro 22
No caso concreto da desinformação, os investigadores explicam que o fenómeno implica a existência de três elementos ( Wardle e Derakhshan, 2019): “um agente, uma mensagem, e um intérprete”.
Neste exemplo, o “agente” é a página “Guajará Alerta”, que foi responsável pela disseminação de informações enganosas, tornando-as públicas, e provocando comoção junto da comunidade.
A “mensagem” diz respeito ao conteúdo da publicação, que alegava que uma mulher estava a raptar crianças, para a prática de “magia negra”.
Já os “intérpretes” são todos aqueles que tiveram acesso à publicação, e que puderam tirar as suas próprias conclusões e opiniões sobre os dados apresentados.
Contudo, alertam os autores, este fenómeno não se cinge ao panorama digital brasileiro. Trata-se, por outro lado, de “fenómeno global” (Wardle e Derakhshan, 2017) que assumiu proporções alarmantes nos últimos anos (McIntyre, 2018).
A desordem da informação é, então, utilizada em favor do sucesso de páginas criadas nas redes sociais, que criam mensagens cuidadosamente construídas, com estratégias de propaganda, captando a atenção dos cidadãos.
No entanto, o sucesso destas páginas pode ter consequências nefastas.
No caso do “linchamento de Fabiane Maria de Jesus”, pode concluir-se que as redes sociais se transformaram numa poderosa ferramenta de desinformação massificada, que impulsina a violência simbólica, além de habilitar formas directas de agressão.
Os autores ressalvam que, à época, pouco se discutia sobre a produção e difusão organizada da desinformação nas redes.
No entanto, hoje sabemos que a circulação de boatos que são amplificados pelas redes sociais mobilizam medos, expectativas, condutas e acções, polarizando a sociedade, e favorecendo determinadas ideologias.
Os vídeos de animação e grafismo digital parecem ter efeitos benéficos na apreensão da informação noticiosa por parte do público. Quem o diz é Mike Beaudet, repórter de investigação e...
A empresa de inteligência artificial (IA) Perplexity começou a partilhar as receitas da publicidade com as organizações de media suas parceiras, noticia a Press Gazette. O anúncio de que esta...
O verdadeiro negócio das redes sociais não são os serviços de envio e recepção de mensagens, partilha de informações e participação em fóruns que as plataformas disponibilizam aos seus...
Embora se definam apenas como plataformas tecnológicas, as redes sociais influenciam as opiniões pessoais. Os especialistas em comunicação, como Rasmus Kleis Nielsen, autor do artigo News as a...
De acordo com Carlos Castilho, do Observatório de Imprensa do Brasil, com o qual o CPI mantém uma parceria, o jornalismo enfrenta, actualmente, dois grandes desafios, nomeadamente,...
Num texto publicado no media-tics, o jornalista Miguel Ormaetxea, reflectiu acerca da receita de publicidade digital dos media, que, em grande parte, fica nas mãos de grandes empresas de tecnologia,...
Num texto publicado na revista ObjETHOS, um dos seus pesquisadores, Raphaelle Batista, reflectiu sobre o papel que o jornalismo teve no Brasil durante 2022, assim como o que deve ser mudado.
Batista...
O Journalism Competition and Preservation Act (JCPA), um projecto de lei que pretendia “fornecer um 'porto seguro' por tempo limitado para algumas organizações de notícias negociarem...
Algumas organizações criaram um novo guia, Dimensions of Difference, para ajudar os jornalistas a entender os seus preconceitos e a cobrir melhor as diferentes comunidades. Este projecto baseia-se...