No caso concreto da desinformação, os investigadores explicam que o fenómeno implica a existência de três elementos ( Wardle e Derakhshan, 2019): “um agente, uma mensagem, e um intérprete”.

Neste exemplo, o “agente” é a página “Guajará Alerta”, que foi responsável pela disseminação de informações enganosas, tornando-as públicas, e provocando comoção junto da comunidade.

A “mensagem” diz respeito ao conteúdo da publicação, que alegava que uma mulher estava a raptar crianças, para a prática de “magia negra”.

Já os “intérpretes” são todos aqueles que tiveram acesso à publicação, e que puderam tirar as suas próprias conclusões e opiniões sobre os dados apresentados.

Contudo, alertam os autores, este fenómeno não se cinge ao panorama digital brasileiro. Trata-se, por outro lado, de “fenómeno global”  (Wardle e Derakhshan, 2017) que assumiu proporções alarmantes nos últimos anos (McIntyre, 2018).

A desordem da informação é, então, utilizada em favor do sucesso de páginas criadas nas redes sociais, que criam mensagens cuidadosamente construídas, com estratégias de propaganda, captando a atenção dos cidadãos.

No entanto, o sucesso destas páginas pode ter consequências nefastas.

No caso do “linchamento de  Fabiane Maria de Jesus”, pode concluir-se que as redes sociais se transformaram numa poderosa ferramenta de desinformação massificada, que impulsina a violência simbólica, além de habilitar formas directas de agressão.

Os autores ressalvam que, à época, pouco se discutia sobre a produção e difusão organizada da desinformação nas redes.

No entanto, hoje sabemos que a circulação de boatos que são amplificados pelas redes sociais mobilizam medos, expectativas, condutas e acções, polarizando a sociedade, e favorecendo determinadas ideologias.


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