Denúncia das “falsas notícias” favorece objectivos de regimes autoritários
Ora, os bons exemplos são para seguir... O porta-voz do primeiro-ministro do Cambodja foi, aliás, mais longe, congratulando-se pelo facto de o Presidente dos EUA ver que “as informações publicadas por estas instituições dos media não reflectem a situação real” e deixando desde já avisos à Imprensa estrangeira no seu país.
Também o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, suspeito de corrupção, denuncia as fakenews que, segundo afirma, estão a ser usadas pelos seus acusadores “para fazerem cair um governo”:
“É esta a maior ameaça, e vamos combatê-la sem descanso” - declarou.
Por seu lado, na China, argumento semelhante começa a ser usado, neste caso a respeito de artigos publicados no Ocidente sobre torturas infligidas a um “defensor dos direitos humanos”, Xie Yang, detido há um ano por “subversão”. A agência oficial Nova China ataca o advogado do detido, acusando-o de “ter utilizado a opinião pública para fazer pressão sobre a polícia e manchar o governo chinês”.
Como comenta o artigo que citamos, essas denúncias “não seriam outra coisa senão fakenews”.
Ainda no Le Monde, outro texto muito recente explica como a desconfiança em relação aos meios de comunicação se tem acentuado, segundo os dados do inquérito realizado pelo Instituto Kandar para o jornal La Croix.
São aí citadas as palavras do chefe da redacção de France Inter, Jean-Marc Four, sobre este inquérito:
“O mundo parece dividido em dois: de um lado, os que se voltam para os media tradicionais, pelo menos em caso de grandes acontecimentos; do outro, uma parte que já não escuta, não vê ou não lê estes meios de comunicação, e que estes já não sabem como atingir.”
Jean-Marc Four pede que haja mais equilíbrio entre o espaço que ocupam os editorialistas e comentadores e o do que se passa no terreno; e declara que é necessário “um diálogo directo entre os jornalistas e o público, ou de viva voz ou por meio das redes sociais”.
Mais informação em Le Monde, a que pertence a imagem, da AFP