Debate sobre jornalismo como pesquisa da verdade numa guerra de narrativas

A mesa-redonda da noite de sábado 11 foi um desses momentos de perguntas difíceis e respostas insatisfatórias.
O jornalista Pedro Dória, editor da newsletter Meio, criticou o activismo, declarando que o jornalista que escolhe esse caminho “torna-se um actor político, actuando politicamente em nome de algum objectivo” e, numa sociedade polarizada como a brasileira, “não convence ninguém; jornalismo activista alimenta a polarização”.
Dríade Aguiar, do colectivo Fora do Eixo, declarou “tecnicamente impossível que um veículo seja imparcial; todo jornal tem uma parcialidade.” Para ela, o papel do Mídia Ninja é dar visibilidade a pessoas que, na cobertura da imprensa tradicional, são invisíveis.
Cecília Oliveira, do The Intercept Brasil, concordou: “Todos somos jornalistas activistas. A pergunta é: de que lado você está? Se você está em silêncio, você tem um lado também.”
O actor e humorista Gregório Duvivier admitiu que não acredita no ‘mito da imparcialidade’: “Mas tenho medo que a gente jogue fora o bebé junto com a água da bacia. E, junto com esse mito, a gente jogue fora fact-checking, jogue fora os factos.” (...)
Sobre a polarização do debate público, na sessão de encerramento, Pablo Ortellado, que dirige o Monitor do Debate Político no Meio Digital, explicou que o Facebook é, no Brasil, a segunda fonte de informação jornalística, atrás apenas da televisão.
Segundo ele, há 5 milhões de utentes de esquerda e 7 milhões de direita – entre os 120 milhões de brasileiros na plataforma – que postam e compartilham conteúdo como se estivessem numa batalha política. “É ‘Toma, coxinha’, ‘Toma, petralha’. As pessoas compartilham isso como um acto de guerra.” (...)
“Projectos inovadores foram também apresentados em palestras do tipo Lightning Talks, um formato inspirado nas conferências TED. No palco, seis sites latino-americanos e dez brasileiros – estes, eleitos pelo público. O espanhol José Luis Vieiras, do En Malos Pasos, contou que vem viajando por dois anos pelos sete países mais violentos da América Latina para fazer reportagens. Estão na sua rota Brasil, Venezuela, Colômbia, Honduras, El Salvador, Guatemala e México. “Na América Latina - disse - não contamos histórias, contamos mortos.” (...)
“Foi a primeira vez que oito organizações nativas digitais - Agência Pública, Nexo, Ponte, Lupa, Brio, Repórter Brasil, Nova Escola e Jota - se uniram ao Google News Lab para fazer um festival a fim de discutir questões que rondam quem está montando novas iniciativas jornalísticas.”
As grandes plataformas tiveram representantes seus explicando os procedimentos adoptados para o combate às falsas informações. Cláudia Gurfinkel, líder de parcerias de media para a América Latina no Facebook e Instagram, e Marco Túlio, do Google News Lab, falaram de situações concretas e de soluções novas para estes problemas.
Mas Sérgio Amadeu, professor da UFABC e membro do Comité Gestor da Internet, criticou o poder das duas plataformas:
“Concentração não é bom para a democracia em nenhum lugar do mundo”, alertou. “Para ‘melhorar nossa experiência’, o algoritmo quer retirar o inesperado, o incómodo, o oposto. Algoritmos não são neutros”, disse.
“Como é que a democracia pode sobreviver, sendo que antes a gente lutava pela liberdade de opinião e expressão, e agora temos que lutar pela liberdade de visualização? Eu tenho que escolher o que eu quero ver!”
E Sérgio Amadeu resumiu a sua visão sob aplausos:
“O debate público está acontecendo dentro de uma empresa privada e tem mais visualização quem paga. Precisamos de ter o direito de visualizar livremente informações de interesse público dentro da plataforma”. (...)
A reportagem na íntegra, no Observatório da Imprensa, contendo os links de vídeo para vários destes debates e mesas-redondas