Suzy Hansen, uma jornalista americana que reside em Istambul desde 2007, conta que, no início, se sentia maravilhada pela diversidade dos jornais turcos de expansão nacional  - Milliyet, Sabah, Zaman, Cumhuriyet, Star, Aksam, BirGün, Habertürk, Vatan, Sözcü, Posta, Yeni Safak, Türkiye  - que se amontoavam nos quiosques dos super-mercados, na mesma altura em que nos Estados Unidos já decrescia o número das publicações impressas: 

“Eles representavam um leque de orientações políticas e estilos de escrita, desde um jornalismo sério, mesmo académico, até tablóides estridentes, com mulheres seminuas na primeira página.” 

“Mas por volta de 2008, quando Erdogan conquistou o seu segundo mandato, os media turcos tornaram-se a primeira vítima sacrificial do seu autoritarismo crescente. Nos anos que se seguiram, os jornalistas mais salientes e talentosos destes jornais foram levados a tribunal, mandados para a cadeia ou expulsos do país.” 

“O Committee to Protect Journalists verificou que 69 jornalistas turcos foram detidos em 2018, mas nos anos anteriores esse número já chegava às centenas.” 

“Os repórteres foram perseguidos e molestados nas redes sociais; alguns foram presos por tweets que escreveram. Foram forçados à auto-censura. Ficaram sem as suas carreiras. Temeram pelas suas vidas. E viram a sua profissão tornar-se uma farsa.”  (...) 

“A história da ascenção dos Demirören revela de que modo um país com aspirações democráticas pode sucumbir tão depressa à autocracia, e como as pessoas comuns podem encontrar-se mobilizadas  - ou juntar-se com alegria -  à causa do autocrata.” 

“A Turquia”  - disse Erdogan em 2015 -  “só pode progredir com um regime autoritário.” 

O extenso artigo de Suzy Hansen, que aqui citamos da Columbia Journalism Review, descreve a história da Imprensa turca desde o tempo em que era dominada por quatro grandes famílias, sendo os directores antigos repórteres ou editores que amavam a profissão. 

“Mas eram também dependentes de uma economia controlada pelo Estado, especialmente em coisas básicas como o papel, tendo portanto muito cuidado em não irritarem os generais turcos ou o partido no governo, que intervinham regularmente nos assuntos da Imprensa. Em caso de desagrado, os militares queixavam-se aos directores. Os jornais eram fechados, as edições confiscadas, os jornalistas presos. Os media, na Turquia, nunca foram livres.” 

No entanto, afirma a autora, podiam ser “robustos  - radicais, combativos, sérios”. A sua função de vigilantes dos poderes teve defensores e modelos, cujos nomes são recordados. 

Nos seus primeiros anos como primeiro-ministro, a partir de 2002, Erdogan ainda dependia de jornalistas que apreciavam a sua retórica pró-ocidental e pró-europeia. Erdogan fez reformas e negociou com a União Europeia. 

Suzy Hansen descreve a evolução do ambiente a partir da segunda vitória do AKP, o partido Justiça e Desenvolvimento, de Erdogan, em 2007, quando ganhou maioria no Parlamento. Foi nesse ano que o Estado turco tomou o o jornal Sabah dos seus proprietários, o Grupo Ciner, e encorajou a sua venda a uma família próxima do governo de Erdogan. Terá sido esse o primeiro passo do AKP no caminho do controlo dos media

Em 2011, Erdogan e o AKP já “tinham conquistado o governo turco, as forças armadas, o poder judicial, a polícia e as agências de segurança”. 

“Os homens de negócios do país descobriram que, para que as suas empresas sobrevivessem, tinham de acatar os desejos de Erdogan. Por meio de procedimentos legais corruptos, o governo começou a atacar os secularistas e os jornalistas, especialmente aqueles que Erdogan achava que o tinham desprezado no passado. Os autores de esquerda perderam os seus empregos e foram para a cadeia.”  

Segundo fontes citadas pela autora, em 2018, depois da aquisição do Hürriyet pelo grupo dos Demirören, 21 dos 29 jornais na Turquia ficaram “nas mãos de patrões estreitamente alinhados com o governo; 73% dos jornais do país estão sob o controlo do AKP; e os jornais pró-governamentais em todo o país chegam agora aos 90% da circulação nacional”. (...) 

E uma antiga colunista no Milliyet, Asli Aydintasbas, acrescenta: 

“Hoje não há interesse em procurar notícias. Os jornais agora nem seguer fazem a cobertura dos partidos de oposição, ou mesmo do Parlamento.”  (...)

 

O artigo aqui citado, na íntegra na Columbia Journalism Review